
Abrigos Antiaéreos e Treinamento em Frio Intenso: Finlândia Reforça Preparo Militar Frente às Tensões com a Rússia
Em um continente ainda marcado pela sombra da guerra na Ucrânia, a Europa não baixa a guarda. Sem um acordo de paz à vista entre Rússia e Ucrânia, paí...
Em um continente ainda marcado pela sombra da guerra na Ucrânia, a Europa não baixa a guarda. Sem um acordo de paz à vista entre Rússia e Ucrânia, países vizinhos à fronteira russa intensificam suas defesas, preparando não apenas forças armadas, mas toda a população para cenários de conflito ampliado. A Finlândia, com sua história de resistência e proximidade geográfica com Moscou, emerge como um exemplo de prontidão estratégica. Diante das ameaças reiteradas pelo presidente Vladimir Putin, o país nórdico investe em exercícios militares rigorosos, abrigos antiaéreos e uma cultura de sobrevivência civil, transformando a vigilância em uma prioridade nacional.
Contexto Histórico e Adesão à OTAN
A relação da Finlândia com a Rússia é marcada por episódios traumáticos que moldam sua política de defesa atual. Em 1939, durante a Guerra de Inverno, a União Soviética invadiu o país, resultando na perda de cerca de 10% de seu território e milhares de vidas. Essa memória coletiva, conhecida como o "fantasma russo", persiste e impulsiona uma postura de neutralidade armada por décadas. No entanto, a invasão russa da Ucrânia em 2022 acelerou uma mudança radical: em 2023, a Finlândia abandonou sua neutralidade e ingressou na OTAN, expandindo a fronteira terrestre da aliança com a Rússia em impressionantes 1.340 quilômetros.
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg (em declarações recentes atribuídas a líderes da organização), alertou em novembro para a necessidade de intensificar esforços preventivos. "A Rússia vê a OTAN como o próximo alvo", ecoam vozes em Helsinque, reforçando a urgência de medidas concretas. Com uma população de apenas 5,5 milhões de habitantes, o Exército finlandês mantém um impressionante contingente de 900 mil reservistas, o que representa uma das maiores forças de reserva per capita do mundo. Essa estrutura reflete uma sociedade que prioriza a defesa coletiva, integrando civis ao esforço militar.

Exercícios Militares no Círculo Polar Ártico
No coração do Círculo Polar Ártico, a Finlândia realiza exercícios militares conjuntos com aliados como Suécia e Reino Unido pelo menos seis vezes ao ano. Essas manobras simulam cenários de defesa em condições extremas, onde temperaturas podem cair para -18°C ou menos, e o inverno polar traz escuridão quase contínua por meses. O foco não é apenas no combate, mas na sobrevivência: soldados aprendem técnicas para manter roupas secas, preservar calor corporal e gerenciar suprimentos em ambientes hostis.
O coronel Marko Kivelä, um oficial experiente do Exército finlandês, enfatiza a importância dessa preparação. "No frio intenso, a sobrevivência das tropas depende de detalhes como alimentação quente e proteção contra hipotermia", explica ele. Além dos treinamentos terrestres, o país investe em abrigos antiaéreos subterrâneos, com uma rede extensa que pode abrigar toda a população em caso de ataques aéreos. Esses bunkers, construídos durante a Guerra Fria e modernizados recentemente, são equipados com sistemas de ventilação e suprimentos de emergência, simbolizando a determinação finlandesa em mitigar ameaças aéreas russas.
O serviço militar obrigatório para homens, combinado com um crescente número de voluntários – incluindo mulheres –, fortalece essa prontidão. Rebecca, uma jovem de 22 anos que se alistou voluntariamente, compartilha: "Diante da situação geopolítica global, sinto que é meu dever proteger meu país. A tensão com a Rússia nos lembra que a paz é frágil." Esses exercícios não só aprimoram habilidades táticas, mas também testam a resiliência logística, como o transporte de equipamentos em neve profunda.

A Cultura de Sobrevivência Civil e Impactos Sociais
A preparação militar transcende as forças armadas e permeia a sociedade finlandesa. Programas de educação civil ensinam a população a lidar com interrupções em serviços essenciais, como cortes de água, energia elétrica ou até conflitos armados. Escolas e comunidades realizam simulações regulares, promovendo uma mentalidade de autossuficiência. Essa cultura é enraizada na história de resistência, onde a ideia de "sisu" – a perseverança finlandesa – se torna um pilar psicológico.
Voluntários participam de cursos de primeiros socorros, construção de abrigos improvisados e treinamento em defesa pessoal. O governo incentiva o armazenamento de suprimentos para até 72 horas, e aplicativos móveis alertam sobre ameaças potenciais. Embora o dia a dia seja afetado – com jovens adiando carreiras para o serviço militar –, a sociedade vê isso como um investimento na segurança coletiva. Mulheres, como Rebecca, representam uma fatia crescente dos voluntários, quebrando tradições e ampliando a base de defesa.
- Investimentos em infraestrutura: Expansão de abrigos antiaéreos para cobrir 100% da população.
- Treinamentos anuais: Mais de 20 mil civis participam de cursos de sobrevivência.
- Parcerias internacionais: Colaboração com OTAN para compartilhamento de inteligência e tecnologia.

Conclusão: Uma Lição de Resiliência Europeia
A Finlândia exemplifica como nações europeias estão se adaptando a um mundo de incertezas, transformando o medo em ação estratégica. Com abrigos antiaéreos robustos, treinamentos em climas extremos e uma população engajada, o país não apenas se defende, mas inspira aliados. Enquanto as negociações de paz com a Rússia permanecem distantes, essa prontidão reforça a estabilidade regional, lembrando que a verdadeira força reside na união e na preparação. Em um continente unido pela OTAN, a mensagem é clara: a Europa não será pega de surpresa.





