Entenda a disputa sobre aeroportos no Rio
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Entenda a disputa sobre aeroportos no Rio

Em meio ao fluxo constante de viajantes e ao zumbido dos aviões, os aeroportos Santos Dumont e Galeão, no Rio de Janeiro, tornaram-se palco de uma aca...

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Em meio ao fluxo constante de viajantes e ao zumbido dos aviões, os aeroportos Santos Dumont e Galeão, no Rio de Janeiro, tornaram-se palco de uma acalorada controvérsia. A decisão recente da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) de aumentar o limite de voos e passageiros no Santos Dumont reacendeu debates sobre o equilíbrio entre os dois principais terminais da cidade. Enquanto o prefeito Eduardo Paes acusa "forças ocultas" de interferir na política pública que revitalizou o Galeão, entidades empresariais alertam para prejuízos à economia local. Essa disputa revela tensões entre interesses regionais, operacionais e econômicos, afetando diretamente a aviação brasileira.

Aeroporto Santos Dumont lotado de passageiros

A Decisão da ANAC e a Reação da Prefeitura

No último domingo (21), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, utilizou suas redes sociais para questionar abertamente a ANAC. Em uma postagem, ele denunciou o que chamou de "movimentação às escuras" da agência para flexibilizar as restrições de voos no Santos Dumont. Segundo Paes, essa iniciativa contraria um acordo firmado no Tribunal de Contas da União (TCU), que visava preservar o equilíbrio entre os aeroportos e fortalecer o Galeão, essencial para a economia fluminense.

Em outra publicação, o prefeito apontou a companhia aérea LATAM como uma das responsáveis pelo lobby pela mudança, embora a empresa tenha se recusado a comentar o assunto. A prefeitura argumenta que o aumento de tráfego no Santos Dumont, um aeroporto menor e focado em voos domésticos, poderia sobrecarregá-lo novamente, comprometendo a segurança e a eficiência operacional. Essa posição é respaldada por dados recentes: o Santos Dumont opera próximo ao seu limite de capacidade, especialmente na rota Rio-São Paulo, que responde por grande parte de seu movimento.

O Histórico da Política de Reequilíbrio

A controvérsia tem raízes em outubro de 2023, quando o governo federal, atendendo a apelos da prefeitura e do governo estadual, editou uma portaria da ANAC estabelecendo um teto de 6,5 milhões de passageiros por ano no Santos Dumont. Na época, o aeroporto, administrado pela Infraero, enfrentava saturação, com operações no limite da capacidade. Em contraste, o Galeão, gerido por uma concessionária privada e com infraestrutura para voos internacionais e domésticos de maior envergadura, operava com baixa ocupação, o que ameaçava sua sustentabilidade financeira.

A medida surtiu efeito imediato. De janeiro a novembro de 2023, o Galeão registrou 6,8 milhões de passageiros, um crescimento significativo. Em 2024, no mesmo período, o número saltou para 16 milhões, impulsionado pela recuperação pós-pandemia e pela redistribuição de voos. No entanto, uma reunião recente no Santos Dumont, envolvendo representantes da ANAC e companhias aéreas, sinalizou a possibilidade de revisão desses limites, o que gerou alarme entre autoridades locais. Essa política não só equilibrou o tráfego, mas também estimulou investimentos no Galeão, como modernizações em pistas e terminais, beneficiando o turismo e o comércio exterior do estado.

Vista aérea do Aeroporto Internacional do Galeão

Impactos Econômicos e Posições das Entidades

As federações das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e do Comércio (FCRJ) manifestaram-se contra a flexibilização proposta pela ANAC. Elas argumentam que o fortalecimento do Galeão é crucial para a recuperação econômica do estado, que ainda sente os efeitos da crise no setor de óleo e gás. Com capacidade para mais de 30 milhões de passageiros anuais, o Galeão poderia atrair mais voos internacionais, gerando empregos e receitas em logística e serviços.

  • Benefícios para o Galeão: Aumento de 140% no tráfego de passageiros desde 2023, com potencial para expansão em cargas e conexões globais.
  • Riscos no Santos Dumont: Sobrecarga poderia levar a atrasos crônicos e custos operacionais elevados, impactando a experiência dos usuários.
  • Perspectiva das companhias aéreas: Empresas como a LATAM defendem maior flexibilidade para atender à demanda crescente, mas sem posicionamento oficial sobre as acusações.

Especialistas em aviação apontam que o equilíbrio entre os aeroportos é vital para evitar monopólios operacionais e promover o desenvolvimento sustentável. A ANAC, por sua vez, justifica a revisão com base em estudos de demanda, mas ainda não divulgou detalhes concretos.

Reunião sobre políticas aeroportuárias no Rio

Conclusão: Um Equilíbrio em Xeque

A disputa pelos céus do Rio de Janeiro transcende os aeroportos e reflete desafios maiores na aviação nacional: como conciliar crescimento econômico com planejamento estratégico? Enquanto a prefeitura e entidades locais pressionam pela manutenção das restrições, a ANAC enfrenta o dilema de atender à expansão do setor sem comprometer investimentos de longo prazo. O desfecho dessa controvérsia pode redefinir o mapa aéreo da região, influenciando não só o turismo, mas toda a cadeia produtiva fluminense. Fica a expectativa por uma solução que priorize o bem público, garantindo que tanto o Santos Dumont quanto o Galeão continuem a impulsionar o Rio como porta de entrada para o Brasil.

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