
O 'Trem do Amor': Ucranianas Enfrentam Perigos para Visitar Maridos na Linha de Frente Contra a Rússia
Em meio ao rugido incessante dos bombardeios e à tensão da guerra que assola a Ucrânia desde 2022, surge uma história de amor e resiliência que atrave...
Em meio ao rugido incessante dos bombardeios e à tensão da guerra que assola a Ucrânia desde 2022, surge uma história de amor e resiliência que atravessa as linhas de frente. O "trem do amor" é o apelido dado aos trens noturnos que partem de Kiev rumo ao leste do país, levando esposas, mães e namoradas para reencontros breves e emocionantes com seus entes queridos mobilizados contra a invasão russa. Essa jornada, repleta de riscos e esperança, simboliza a força do espírito humano em tempos de conflito. A BBC News acompanha a saga de Sasha, uma jovem de 22 anos que desafia zonas de guerra para abraçar seu marido, Dmytro, em Kramatorsk, na região de Donetsk.
A Jornada Arriscada de Sasha pelo 'Trem do Amor'
Sasha acorda cedo no vagão lotado do trem noturno, o aroma de café instantâneo misturando-se ao cheiro de metal e ansiedade. Partindo da capital ucraniana, Kiev, o trem serpenteia por paisagens marcadas pela devastação da guerra. Para ela, essa viagem de mais de 12 horas não é apenas um deslocamento; é um ato de amor. "Não estou preocupada comigo, mas com meu marido. No momento, ele está saindo de seu posto", conta Sasha à BBC, enquanto toma seu café da manhã simples, os olhos fixos na janela embaçada.

A viagem é exaustiva e perigosa, com sirenes antiaéreas ecoando frequentemente. Desde novembro de 2022 – e não 2025, como inicialmente reportado em algumas fontes –, a empresa ferroviária Ukrzaliznytsia suspendeu paradas em Kramatorsk devido aos ataques intensos à infraestrutura. Agora, o trem para em uma cidade vizinha, exigindo uma transferência de duas horas de ônibus por estradas vulneráveis a drones e artilharia. "Durante essa transferência, tudo pode acontecer", admite Sasha. "Mas é bom que os trens ainda funcionem, porque isso nos dá esperança". Esses trens, vitais para o abastecimento militar e civil, transportam milhares de visitantes mensalmente, apesar dos riscos crescentes.
O Amor que Nasceu em Tempos de Guerra
Sasha e Dmytro se casaram em agosto de 2022, logo após o início da mobilização total na Ucrânia. Aos 26 anos, Dmytro é um militar de carreira, tendo dedicado sete anos às Forças Armadas. "Ele me disse logo de cara: 'Você será minha esposa'. Eu não acreditei. Não tinha planos de me casar antes dos 25", relembra ela, com um sorriso tímido que contrasta com a gravidade da situação. Sasha viaja para Kramatorsk quase todo mês, mas as restrições logísticas e financeiras tornam visitas mais frequentes um sonho distante.
A família de Sasha está profundamente enraizada no mundo militar. "Todos os homens da minha família servem. Meu pai é policial, mas após se aposentar, alistou-se nas Forças Armadas. Meu irmão mais velho também está no exército", explica. Essa conexão familiar reflete a realidade de muitas ucranianas: com mais de 500 mil homens mobilizados desde o início da invasão russa, as mulheres assumem papéis duplos de apoio emocional e logístico. O "trem do amor" não é um serviço oficial, mas um fenômeno espontâneo que une famílias fragmentadas pela guerra, permitindo reencontros que duram apenas horas ou dias antes do retorno à frente de batalha.

O Papel dos Trens na Resiliência Ucraniana
Os trens ucranianos não são apenas meios de transporte; são artérias vitais de uma nação em luta. A Ukrzaliznytsia opera sob condições extremas, reparando trilhos bombardeados e protegendo estações com voluntários armados. Em 2023, o sistema ferroviário transportou mais de 100 milhões de passageiros, incluindo suprimentos militares e civis em fuga. Para visitantes como Sasha, esses trens representam uma ponte frágil entre a normalidade e o caos. No entanto, com a escalada de ataques russos em Donetsk – região que viu mais de 10 mil civis mortos desde 2022, segundo a ONU –, as viagens se tornaram ainda mais arriscadas.
Outras histórias ecoam a de Sasha: mães viajando para ver filhos feridos, noivas adiando casamentos indefinidamente. Esses reencontros breves fortalecem o moral das tropas, como relatam oficiais ucranianos. "O amor é nossa melhor arma contra o desespero", diz um comandante em entrevista à BBC.

Em conclusão, o "trem do amor" encapsula a essência da Ucrânia em guerra: uma mistura de medo, determinação e afeto inabalável. Para Sasha e tantas outras, cada viagem é um lembrete de que, mesmo nas sombras da invasão russa, o laço humano persiste. Enquanto os trilhos ecoam com rodas e corações acelerados, a esperança viaja junto, impulsionando uma nação rumo à sobrevivência e à vitória.





