Em um caso que abalou o mundo da educação brasileira, a jornalista Luiza Tenente, do G1, desvendou um possível vazamento de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025. Sua investigação, revelada em reportagem exclusiva, levou à anulação de três perguntas do exame pelo Ministério da Educação (MEC) e à abertura de inquérito pela Polícia Federal (PF). O episódio, que ganhou destaque no programa Fantástico, da TV Globo, expõe vulnerabilidades no processo de elaboração de provas nacionais e levanta debates sobre a integridade do sistema educacional. Renata Ceribelli, apresentadora do Fantástico, entrevistou a repórter e o estudante envolvido, Edcley Teixeira, trazendo à tona os bastidores dessa polêmica.

A Descoberta Inicial: De uma Dica Anônima à Investigação

A saga começou logo após o segundo dia de provas do Enem, em 16 de novembro de 2025. Rumores de vazamento circularam nas redes sociais, mas foi uma mensagem de um aluno que acendeu o alerta para Luiza Tenente. "Eu recebi uma mensagem de um aluno me alertando de que, talvez, uma live tivesse exibido algumas questões muito, muito parecidas com as que, de fato, estavam na prova. E aí eu fui atrás da tal live", relatou a jornalista em entrevista ao Fantástico.

Edcley Teixeira, estudante de medicina e criador de cursos online preparatórios para o Enem, havia transmitido uma live cinco dias antes da prova. Nela, ele discutia temas e exemplos que, segundo a apuração, ecoavam questões reais do exame. A repórter acessou o vídeo, que agora está com acesso restrito, e iniciou uma comparação minuciosa com o caderno oficial de provas divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Essa abordagem jornalística meticulosa destaca a importância do jornalismo investigativo em tempos de desinformação digital. Tenente não se contentou com boatos; ela compilou evidências concretas, transformando uma suspeita em um escândalo nacional.

As Semelhanças Encontradas e a Anulação das Questões

Na análise detalhada, Luiza identificou cinco questões com alto grau de similaridade entre a live e o Enem. No entanto, o MEC anulou apenas três delas, de disciplinas como física, biologia e matemática. "Eu vi que eram os mesmos números, a mesma situação-problema, muitas vezes as alternativas eram basicamente idênticas", explicou a repórter. "Então, é muito difícil acreditar que tenha sido sorte. Eu diria que é impossível."

As questões anuladas envolviam conceitos específicos, como cálculos em física e cenários biológicos complexos, que dificilmente poderiam coincidir por acaso. O Inep utiliza pré-testes – provas experimentais aplicadas em concursos anteriores – para calibrar o exame, mas o vazamento sugere uma falha na confidencialidade desses materiais.

• Física: Uma questão sobre mecânica com parâmetros idênticos.
• Biologia: Problema envolvendo ecossistemas e interações semelhantes.
• Matemática: Exercício de probabilidade com dados coincidentes.

Essa anulação afetou milhares de candidatos, que viram suas pontes parciais alteradas. O MEC agiu rapidamente após a reportagem do G1, horas depois da publicação, demonstrando a impacto imediato do jornalismo responsável.

A Defesa do Envolvido e a Investigação da Polícia Federal

Edcley Teixeira, alvo da investigação da PF, negou intenções maliciosas. Em entrevista ao Fantástico, ele atribuiu as semelhanças a uma "coincidência" e revelou que as questões anuladas faziam parte do Prêmio Capes Talento Universitário, um concurso de 2024 promovido pelo MEC. "Eu desconfiei que pudesse ser um tipo de pré-teste", confessou, admitindo ter notado padrões semelhantes ao Enem em aquela prova.

Os pré-testes do Inep são ferramentas essenciais para validar questões, mas sua exposição prematura compromete a isonomia do exame. A PF agora apura se houve acesso indevido a esses materiais, com foco em Teixeira e possíveis redes de disseminação. Especialistas em educação alertam que vazamentos como esse minam a confiança no Enem, principal porta de entrada para universidades públicas e bolsas via Sisu e Prouni.

A investigação pode revelar mais sobre as fragilidades no processo de elaboração de provas, incluindo a participação de instituições como a Capes e o Inep. Enquanto isso, candidatos aguardam atualizações sobre o impacto em suas notas finais.

Conclusão: Lições para a Integridade Educacional

O caso do vazamento do Enem 2025 reforça a necessidade de maior transparência e segurança nos processos avaliativos nacionais. A atuação de Luiza Tenente não só corrigiu uma irregularidade, mas também impulsionou reformas potenciais no Inep e MEC. Com a PF em ação, espera-se que responsabilidades sejam apuradas, garantindo que o Enem permaneça um instrumento justo de seleção. Para estudantes e educadores, o episódio serve como lembrete: a vigilância coletiva é essencial para preservar a credibilidade do sistema educacional brasileiro. No final, o jornalismo investigativo emerge como guardião da verdade em meio ao caos informativo.