
Alcolumbre cancela sabatina de Jorge Messias, indicado por Lula ao STF
Em um movimento que expõe tensões entre o Executivo e o Legislativo, o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União-AP), anunciou o cancelamen...
Em um movimento que expõe tensões entre o Executivo e o Legislativo, o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União-AP), anunciou o cancelamento da sabatina do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão, divulgada nesta terça-feira (2), reflete um desgaste nas relações institucionais e levanta questionamentos sobre o processo de nomeação de ministros para a mais alta corte do país.
A indicação de Messias, anunciada em 20 de novembro, gerou expectativas de uma tramitação ágil no Senado. No entanto, falhas protocolares do governo federal culminaram no adiamento indefinido da audiência, marcada inicialmente para 10 de dezembro. Essa reviravolta não só atrasa o preenchimento da vaga, mas também sinaliza possíveis entraves políticos em um momento crucial para o equilíbrio de poderes no Brasil.

O Motivo Oficial do Cancelamento
Alcolumbre justificou a medida em um comunicado oficial, apontando a ausência de uma mensagem escrita formal do governo federal ao Senado sobre a indicação de Messias. "Essa omissão, de responsabilidade exclusiva do Poder Executivo, é grave e sem precedentes", declarou o senador, enfatizando que tal falha interfere diretamente no cronograma legislativo. A sabatina estava agendada para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com o senador Weverton Rocha (PDT-MA) designado como relator. A previsão era de leitura do parecer, vistas coletivas e votação no plenário no mesmo dia 10 de dezembro.
Fontes próximas ao governo atribuem o atraso a uma estratégia para ganhar tempo e permitir reuniões entre Messias e senadores chave, visando construir apoios. No entanto, Alcolumbre classificou a situação como uma "interferência indevida" no Legislativo, reforçando a necessidade de cumprimento estrito das normas regimentais. O comunicado integral, divulgado à tarde, estipulava datas como 3 e 10 de dezembro para as etapas do processo, mas foi suspenso devido à irregularidade.
Contexto da Indicação e Trajetória de Jorge Messias
A vaga no STF surgiu com o anúncio da aposentadoria de Luís Roberto Barroso, que assumirá a presidência do Banco Central Europeu. Alcolumbre, aliado de figuras como o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), articulou nos bastidores para que um nome mais alinhado ao Congresso fosse escolhido. Pacheco, inclusive, era cotado como possível indicado, dada sua experiência jurídica e influência política.
Contrariando essas expectativas, Lula optou por Jorge Messias, um jurista com longa trajetória em governos petistas. Messias atuou como assessor na AGU durante o primeiro mandato de Lula e, desde 2023, ocupa o cargo de advogado-geral da União. Sua nomeação é vista como uma tentativa de reforçar a presença de perfis técnicos e alinhados ao Executivo na corte, especialmente em um STF que tem enfrentado críticas por decisões polêmicas em temas como corrupção e direitos sociais.
A escolha de Messias, no entanto, não foi unânime. Críticos apontam para sua proximidade com o governo como potencial viés, enquanto apoiadores destacam sua expertise em direito constitucional e administrativo. A indicação ocorre em um cenário de polarização, onde nomeações para o STF frequentemente se tornam arenas de disputa partidária.

Implicações Políticas e Institucionais
O cancelamento evidencia um rift crescente entre o Palácio do Planalto e o Senado, que já vinha se manifestando em votações de projetos econômicos e reformas. Alcolumbre, conhecido por sua postura assertiva, usa o episódio para reafirmar a autonomia do Legislativo, possivelmente como recado para futuras indicações. Analistas políticos sugerem que o governo Lula pode ter subestimado a rigidez protocolar, o que agora exige correções urgentes para evitar um vácuo prolongado no STF.
- Impacto no cronograma: A vaga de Barroso deve ser preenchida até fevereiro de 2025, mas atrasos podem sobrecarregar a corte em julgamentos pendentes.
- Relações inter-poderes: O episódio reforça a necessidade de diálogo, especialmente com o Senado controlado por opositores ao PT.
- Perspectivas futuras: Uma nova data para sabatina depende do envio imediato da documentação formal pelo Executivo.

Conclusão
O adiamento da sabatina de Jorge Messias não é mero trâmite burocrático, mas um sintoma de tensões mais profundas na democracia brasileira. Com o STF no centro de debates nacionais, a rapidez na resolução desse impasse será crucial para manter o equilíbrio institucional. Enquanto o governo corrige falhas e constrói consensos, o episódio serve de lembrete sobre a importância do respeito às normas entre poderes. A expectativa agora é por uma reconciliação que permita ao indicado avançar, garantindo que a justiça continue a ser administrada com imparcialidade e eficiência.





