
Alexandre de Moraes Vota pela Manutenção de Decisão que Anula Sessão da Câmara sobre Carla Zambelli
Em um episódio que reacende debates sobre a separação de poderes no Brasil, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou p...
Em um episódio que reacende debates sobre a separação de poderes no Brasil, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou para confirmar sua própria decisão que anulou uma sessão da Câmara dos Deputados. A medida visa manter o mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP) suspenso, determinando a posse de seu suplente em até 48 horas. Essa controvérsia surge no contexto de uma condenação criminal com trânsito em julgado contra a parlamentar, destacando tensões entre o Judiciário e o Legislativo em um momento político delicado.

Contexto da Decisão Monocrática de Moraes
A decisão inicial de Moraes foi proferida em uma sessão extraordinária virtual na véspera da votação em plenário. Como relator do processo de execução da pena contra Zambelli, o ministro monitora o cumprimento das sanções impostas, incluindo a perda do mandato parlamentar. Zambelli foi condenada por crimes que resultaram em sentença definitiva, o que, conforme a Constituição Federal, acarreta a inelegibilidade e a cassação automática do cargo.
A sessão da Câmara, realizada na madrugada de anteontem, registrou 227 votos favoráveis à cassação, 170 contrários e dez abstenções. No entanto, para aprovar a perda do mandato, seria necessária a maioria absoluta dos deputados, ou seja, pelo menos 257 votos. Com o resultado insuficiente, a Casa manteve o mandato de Zambelli, o que levou Moraes a intervir de ofício – sem provocação formal – anulando a deliberação. Ele baseou sua ação em notícias jornalísticas e no site oficial da Câmara, argumentando que a votação desrespeitava normas constitucionais claras.
Essa intervenção monocrática reflete o papel do STF em zelar pela supremacia da Constituição, especialmente em casos de condenações penais transitadas em julgado. Moraes enfatizou que o Judiciário é o responsável por determinar a perda do mandato, cabendo à Mesa da Câmara apenas declarar o fato por meio de ato administrativo vinculado, nos termos do §3º do artigo 55 da Carta Magna.
Argumentos Jurídicos e Votação na Primeira Turma
Na sessão virtual aberta nesta terça-feira, Moraes apresentou seu voto detalhado para chancela pela Primeira Turma do STF, composta atualmente por quatro ministros: ele próprio, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin e Flávio Dino. A expectativa é de que a decisão seja confirmada por unanimidade ou ampla maioria, consolidando a anulação da sessão legislativa.
No voto, o ministro reiterou: "Em respeito à Constituição Federal, é o Poder Judiciário quem determina a perda do mandato parlamentar condenado criminalmente com trânsito em julgado, cabendo à Mesa da Câmara dos Deputados, nos termos do §3º do artigo 55 da Constituição Federal, tão somente declarar a perda do mandato, ou seja, editar ato administrativo vinculado." Essa interpretação reforça o entendimento de que o Legislativo não pode reverter decisões judiciais definitivas por meio de votações internas, evitando o que Moraes vê como uma violação ao Estado Democrático de Direito.
A ação de Moraes também destaca o mecanismo de ofício, permitindo que o relator atue preventivamente para garantir o cumprimento de sentenças. Esse procedimento, embora controverso, tem precedentes no STF e visa preservar a integridade das punições impostas pelo Judiciário.

Reações Políticas e Críticas ao Judiciário
A decisão gerou imediata repercussão no meio político. O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), classificou a intervenção de Moraes como uma "usurpação institucional", acusando o ministro de passar por cima do Parlamento e da vontade popular expressa na votação. "Um homem passando por cima do Parlamento e da vontade do povo", declarou Cavalcante, ecoando críticas de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, partido de Zambelli.
Outros parlamentares bolsonaristas argumentam que a cassação deveria depender exclusivamente do Conselho de Ética e do plenário, questionando a autoridade do STF para interferir diretamente. Por outro lado, juristas e opositores defendem a medida como essencial para coibir impunidade, especialmente em casos de condenados por crimes graves.
A controvérsia se insere em um histórico de tensões entre os poderes, agravadas por investigações sobre fake news e atos antidemocráticos envolvendo figuras do PL. A determinação de posse do suplente em 48 horas pressiona o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a cumprir a ordem judicial sob risco de sanções adicionais.

Implicações e Perspectivas Futuras
A confirmação do voto de Moraes pela Primeira Turma pode abrir precedentes para intervenções judiciais em decisões legislativas semelhantes, fortalecendo o papel do STF na fiscalização de mandatos parlamentares. No entanto, ela também alimenta narrativas de judicialização excessiva da política, podendo escalar para embates institucionais maiores.
Para Zambelli, a perda do mandato representa um revés significativo em sua trajetória política, enquanto o suplente assume em meio a polêmicas. Esse caso reforça a necessidade de harmonia entre os poderes, mas também a vigilância contra abusos de autoridade. À medida que o processo avança, o Brasil acompanha de perto como o equilíbrio constitucional será preservado em tempos de polarização.
Em resumo, a decisão de Moraes não apenas resolve o impasse imediato, mas sinaliza uma postura firme do Judiciário em defender a legalidade, mesmo diante de resistências políticas. O desfecho final da Turma definirá os próximos passos nessa saga jurídica e legislativa.





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