Detalhes de uma delação inflamável
O Amapá encerrou o ano de 2024 com uma festa grandiosa, marcada por shows de artistas renomados que atraíram multidões para o "maior Réveillon da Amaz...
O Amapá encerrou o ano de 2024 com uma festa grandiosa, marcada por shows de artistas renomados que atraíram multidões para o "maior Réveillon da Amazônia". No entanto, por trás das luzes e da música, uma proposta de delação premiada revela um esquema de influência política e fraudes bilionárias no setor de combustíveis. Empresários investigados acusam figuras proeminentes do Congresso, como o senador Davi Alcolumbre, de receberem propinas em troca de favores. Essa história, apurada pela revista piauí, expõe as entranhas de um sistema onde o poder e o dinheiro se entrelaçam de forma alarmante.
A Festa no Amapá e o Destaque Político
O governo do Amapá promoveu uma programação festiva para celebrar a virada do ano, com apresentações de astros como João Gomes, Alceu Valença, Pablo do Arrocha, Alok e, como grande atração, Roberto Carlos. Em um texto oficial de divulgação, o governador Clécio Luís (Solidariedade) e o senador Davi Alcolumbre (União-AP) foram elogiados por seu papel na captação de recursos privados para os eventos. O comunicado afirmava que o "trabalho sério e responsável" de Clécio, apoiado por Alcolumbre, atraía investidores e impulsionava a visibilidade do estado.
No entanto, o envolvimento do senador Alcolumbre, que não ocupa cargo executivo no Amapá, levanta questionamentos. Não foram divulgados detalhes sobre como ele contribuiu para os preparativos, o que contrasta com a narrativa oficial de parceria. Essa discrepância ganha contornos sombrios à luz de revelações em uma proposta de colaboração premiada submetida à Procuradoria-Geral da República (PGR). A delação sugere que o apoio do parlamentar ia além de meras indicações, envolvendo transações financeiras ocultas.
O Esquema de Fraudes e Influência no Congresso
Os delatores são Roberto Leme, conhecido como Beto Louco e controlador da Copape — uma empresa acusada de fraudes na produção de combustíveis —, e seu sócio Mohamad Hussein Mourad, apelidado de "Primo". Ambos são investigados por um esquema bilionário que, entre 2021 e 2025, teria distribuído dezenas de milhões de reais a membros do panteão do Congresso Nacional em troca de influência política.
Segundo a proposta, os pagamentos visavam garantir favores em agências reguladoras e decisões legislativas. Destaque vai para Davi Alcolumbre, atual presidente do Senado, e Antonio Rueda, presidente do União Brasil. Os delatores prometem revelar detalhes de como essas verbas foram usadas para reverter sanções da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que proibiu a Copape de operar por irregularidades na fabricação de gasolina adulterada. A piauí apurou que as transações eram sistemáticas, com reuniões em gabinetes em Brasília servindo como palco para negociações.
- Escala do esquema: Dezenas de milhões de reais distribuídos a políticos influentes.
- Período: De 2021 a 2025, coincidindo com mandatos chave.
- Objetivo principal: Reverter proibições da ANP e obter licenças favoráveis.

O Caso Específico do Show de Roberto Carlos
Um dos episódios mais emblemáticos descritos na delação envolve o show de Roberto Carlos em Macapá, parte do Réveillon amazônico. Beto Louco alega ter desembolsado R$ 2,5 milhões a pedido de Alcolumbre para custear a apresentação. A transação teria ocorrido em 20 de dezembro de 2024, durante uma reunião presencial no gabinete do senador em Brasília.
O dinheiro, segundo a proposta, era uma estratégia para mitigar a decisão da ANP que paralisava as operações da Copape. Em troca do pagamento, Alcolumbre supostamente usaria sua influência para pressionar por uma revisão da proibição. A piauí verificou que o evento foi amplamente divulgado nas redes sociais do senador, com fotos dele nos bastidores ao lado do cantor, reforçando a proximidade. Esse caso ilustra como eventos culturais de grande porte podem servir de fachada para negociações ilícitas, misturando entretenimento e corrupção.

Implicações e o Futuro das Investigações
Essa delação premiada, se homologada, pode abalar as estruturas do poder em Brasília, expondo como o setor de combustíveis financia a política brasileira. Alcolumbre, uma das figuras centrais, nega qualquer irregularidade, afirmando que seu apoio aos eventos do Amapá é parte de seu mandato representativo. No entanto, as acusações levantam debates sobre transparência em financiamentos de eventos públicos e a necessidade de reformas no financiamento político.
Enquanto a PGR analisa a proposta, o caso reforça a importância de investigações independentes para combater a corrupção. O Amapá, que buscava projetar uma imagem de progresso com sua festa de Ano Novo, agora enfrenta o escrutínio de um esquema que ameaça manchar não só reputações individuais, mas a confiança na democracia. A resolução desse imbróglio dependerá da coragem das instituições em seguir as pistas reveladas pelos delatores.





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