
Entrevista: Ela se infiltra em grupos nas redes e alerta: ‘Estão ensinando nossos filhos a odiar – e a se odiar’
Alerta: Esta reportagem aborda temas sensíveis como suicídio, transtornos mentais e radicalização online. Se você ou alguém que conhece está passando...
Alerta: Esta reportagem aborda temas sensíveis como suicídio, transtornos mentais e radicalização online. Se você ou alguém que conhece está passando por dificuldades emocionais, procure ajuda profissional. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio gratuito pelo telefone 188 ou pelo site cvv.org.br. Em casos de emergência, ligue para o SAMU (192).
A pesquisadora baiana Michele Prado é uma das principais vozes no combate à radicalização online no Brasil. Com anos de experiência infiltrada em plataformas como Discord e Telegram, ela investiga canais extremistas e alerta autoridades e a sociedade sobre os perigos que rondam nossos jovens. Sua atuação já resultou na localização de neonazistas, na identificação de conexões entre atentados em escolas e subculturas digitais, além de suporte a polícias e promotorias com dados cruciais.
Em um cenário onde a internet se tornou um campo minado para mentes vulneráveis, Prado denuncia o crescimento de grupos que vão além dos incels – popularizados na série Adolescência, da Netflix – e exploram a monetização das redes para recrutar vítimas. Na entrevista exclusiva, ela revela detalhes chocantes sobre o funcionamento desses espaços, o papel crescente de meninas no recrutamento e o incentivo a abusos infantis por meio de "eventos" ao vivo. Além disso, critica a ausência de leis específicas contra o extremismo digital e a estrutura insuficiente de estados e do governo federal para proteger a juventude.

O Universo dos Incels: Vulnerabilidade e Ódio Organizado
Os incels, ou "celibatários involuntários", representam um dos braços mais visíveis da radicalização online. Segundo Prado, esse movimento não se limita a homens heterossexuais frustrados. "A incelsfera tem meninos e meninas, as femcels. Também inclui incels LGBTQIA+, como os gaycels", explica ela. Esses indivíduos enfrentam dificuldades profundas de adequação social, rejeição e bullying, o que os torna presas fáceis para narrativas tóxicas.
"Não é que não queiram amar, andar de mãos dadas ou ter relações afetivas. Eles querem, mas não conseguem por diversos motivos: inadequação social, autoimagem negativa ou traumas", detalha a pesquisadora. Agentes maliciosos exploram essa fragilidade, promovendo discursos misóginos como "Mate a mulher. Se elas fossem submissas, você não passaria por isso". No entanto, nem todo o grupo é puramente violento; há nuances, com membros buscando apoio mútuo em meio ao isolamento.
Prado alerta que esses fóruns evoluíram para algo mais perigoso, com transmissão ao vivo de crueldades e monetização via doações e conteúdos pagos, ampliando o risco de cooptação de jovens.
Infiltração e Descobertas Assustadoras: O Papel das Meninas e Abusos Online
Infiltrada em canais fechados, Prado testemunha diariamente o horror. "Estão ensinando nossos filhos a odiar – e a se odiar", resume ela. Um dos aspectos mais alarmantes é o aumento da participação feminina no recrutamento. Meninas, muitas vezes vítimas de bullying ou baixa autoestima, atuam como "iscas" para atrair novos membros, especialmente adolescentes em fase de formação identitária.
"O papel das meninas no recrutamento é cada vez maior. Elas se apresentam como confidentes, mas guiam as vítimas para conteúdos extremistas", revela Prado. Outro ponto crítico é o incentivo a abusos infantis por meio de "eventos" online, onde participantes são pressionados a compartilhar atos de autolesão ou violência em tempo real, sob ameaça de exposição ou exclusão do grupo.
- Recrutamento velado: Começa com conversas sobre solidão e evolui para ideologias radicais.
- Monetização perigosa: Plataformas pagam por visualizações, incentivando conteúdos cada vez mais chocantes.
- Riscos para escolas: Conexões diretas entre subculturas online e incidentes de violência escolar.

Desafios Legais e Governamentais: A Urgência de Ações Concretas
Apesar dos avanços na investigação, Prado critica a lentidão do sistema. "Falta uma lei específica contra o extremismo online. Estados e o governo federal têm estruturas insuficientes para monitorar e combater a radicalização de jovens", afirma. No Brasil, enquanto leis como o Marco Civil da Internet regulam o fluxo de dados, não há mecanismos robustos para desmantelar redes transnacionais de ódio.
A pesquisadora defende parcerias entre ONGs, tech companies e autoridades, além de educação digital nas escolas para identificar sinais precoces de radicalização. "Precisamos investir em prevenção, não só em repressão", enfatiza.

Conclusão: Proteger a Próxima Geração Começa Agora
A luta de Michele Prado é um chamado à ação. Em um mundo hiperconectado, onde o ódio se espalha como vírus, pais, educadores e policymakers devem unir forças para blindar os jovens. "Esses grupos não são inofensivos; eles destroem vidas", conclui ela. Ao monitorar o uso da internet, fomentar diálogos abertos e pressionar por reformas legais, podemos impedir que o ódio online se torne a norma. O futuro de nossos filhos depende disso – e o tempo urge.





