
Falta de mão de obra impulsiona empresas a oferecerem benefícios atrativos para conquistar talentos
Com a proximidade do fim do ano, o varejo brasileiro vive uma correria habitual para atender à demanda natalina. No entanto, este período traz um desa...
Com a proximidade do fim do ano, o varejo brasileiro vive uma correria habitual para atender à demanda natalina. No entanto, este período traz um desafio inédito: a escassez de mão de obra qualificada. Empresas de diversos setores, especialmente no comércio e na confecção, enfrentam dificuldades para preencher vagas, levando-as a investir em pacotes de benefícios mais generosos. Em São Paulo, epicentro do comércio popular, a situação é crítica, com milhares de oportunidades ociosas que refletem um mercado de trabalho em transformação.

A crise de mão de obra no comércio paulista
No coração de São Paulo, bairros como Brás e Bom Retiro, conhecidos por seu comércio popular e atacadista, registram mais de 10 mil vagas abertas. Lojas e oficinas de costura exibem cartazes de recrutamento para funções variadas, desde vendedores até costureiras especializadas. No entanto, a rotatividade é baixa, e as entrevistas frequentemente terminam sem contratações.
Cinthia Kim, proprietária de uma confecção no Brás, relata a frustração diária: "Estamos com uma deficiência grave de mão de obra, especialmente a técnica. Procuramos incessantemente, mas é difícil contratar." Sua empresa, que emprega 17 pessoas entre loja e oficina, precisa de mais três funcionários. Candidatos citam distâncias longas, problemas de transporte e preferência por opções mais flexíveis, como home office ou freelancing, mesmo que paguem menos.
Essa realidade não é isolada. Dados do IBGE indicam que a taxa de desemprego no Brasil atingiu mínimas históricas, em torno de 7,5% no terceiro trimestre de 2023, o menor nível desde 2012. Com mais pessoas empregadas, o poder de barganha migrou para os trabalhadores, que agora priorizam qualidade de vida sobre remuneração isolada.
Fatores que agravam a dificuldade de contratação
A baixa taxa de desemprego é apenas o início da equação. Outros elementos contribuem para o descompasso entre oferta de vagas e candidatos. A pandemia de COVID-19 acelerou a adoção de modelos remotos e flexíveis, alterando as expectativas dos profissionais. Muitos, especialmente mulheres, optam por arranjos informais para conciliar trabalho e família.
Elismayane Lima Bezerra, ex-funcionária CLT, escolheu o freelancing devido à rotina atípica de sua família: "Eu já fui CLT por muitos anos, mas por conta do meu filho autista, precisei de flexibilidade." Da mesma forma, Tatiane Aparecida, passadeira, trabalha alguns dias por semana para cuidar do marido doente: "Eu venho quando eles precisam e quando ele tem consulta, eu priorizo. Depois, quero me registrar para mais segurança."
Empresas enfrentam concorrência de plataformas de gig economy, que oferecem horários livres e pagamentos por tarefa. Além disso, questões logísticas, como o custo do transporte público em São Paulo – que pode consumir até 20% do salário mínimo –, desestimulam candidatos de periferias distantes.
- Desafios logísticos: Distância e transporte impactam 40% das desistências, segundo pesquisas do Sebrae.
- Preferência por flexibilidade: 60% dos jovens entre 18 e 24 anos valorizam home office, conforme estudo da Catho.
- Qualificação técnica: Falta de cursos profissionalizantes agrava a escassez em setores como costura e logística.
Estratégias das empresas para atrair e reter talentos
Para contornar a crise, as empresas estão elevando o patamar dos benefícios. Além de salários competitivos, pacotes incluem vale-alimentação ampliado, auxílio-creche, horários flexíveis e até parcerias com apps de mobilidade para reembolso de transporte. No Brás, algumas confecções oferecem bônus por produtividade e treinamentos gratuitos para upskilling.
"Estamos investindo em benefícios que vão além do financeiro, como dias de folga extras e suporte psicológico", explica Camila, gestora de uma loja no Bom Retiro. Essa abordagem não só atrai, mas retém talentos, reduzindo a rotatividade em até 30%, segundo relatórios da FGV.
Outra tática é a contratação de freelancers e meio-período, permitindo escalabilidade sazonal. Plataformas como 99Freelas e Workana facilitam essa transição, beneficiando tanto empregadores quanto profissionais em busca de equilíbrio.
Conclusão: Um mercado de trabalho em evolução
A falta de mão de obra no fim do ano destaca uma mudança estrutural no mercado brasileiro: de um modelo rígido para um mais dinâmico e centrado no bem-estar. Com o desemprego em baixa e as demandas por flexibilidade em alta, empresas que souberem adaptar-se – oferecendo benefícios holísticos e opções híbridas – sairão na frente. Para os trabalhadores, é uma oportunidade de negociar melhores condições. No longo prazo, investimentos em educação e infraestrutura de transporte serão essenciais para equilibrar oferta e demanda, garantindo um crescimento sustentável para o setor.





