Em um caso que abala as estruturas políticas do Rio de Janeiro, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj), Rodrigo Bacellar, foi preso preventivamente nesta semana por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A operação da Polícia Federal (PF) investiga suspeitas de vazamento de informações sigilosas que teriam beneficiado o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias. O programa Fantástico, da TV Globo, obteve acesso exclusivo ao depoimento de Bacellar, revelando contradições entre suas declarações e as evidências coletadas pela PF. Este escândalo expõe possíveis conexões entre o crime organizado e o poder legislativo, levantando questionamentos sobre a integridade das instituições fluminenses.

A Prisão de Bacellar e o Contexto das Investigações

A prisão de Rodrigo Bacellar ocorreu em meio a uma ampla operação da PF que mira atividades criminosas ligadas ao Comando Vermelho, uma das principais facções criminosas do Rio de Janeiro. TH Joias, preso em setembro do ano passado, é acusado de lavagem de dinheiro para a facção, negociação de armas, aquisição de equipamentos antidrones e de atuar como um braço do grupo dentro da Alerj. Relatórios da PF apontam para uma "intensa troca de mensagens" entre o ex-deputado e contatos estratégicos, incluindo o presidente da casa legislativa.

De acordo com as investigações, Bacellar teria alertado TH Joias sobre ações policiais iminentes, permitindo que ele tomasse medidas para se proteger. A decisão do STF, assinada por Alexandre de Moraes, justifica a prisão preventiva pela necessidade de preservar a ordem pública e evitar a obstrução das apurações. Bacellar, filiado ao União Brasil, assumiu a presidência da Alerj em fevereiro deste ano, prometendo uma gestão transparente, o que torna o caso ainda mais impactante para a opinião pública.

O Depoimento de Bacellar: Negativas e Explicações

No depoimento prestado à PF, Bacellar negou veementemente qualquer envolvimento em vazamentos de informações. Ele afirmou que nunca havia conhecido TH Joias pessoalmente antes de sua posse como deputado, em 2023, e que sua relação com o ex-parlamentar era estritamente institucional. "Eu sou presidente do Parlamento. Tenho que atender todos indistintamente", declarou, enfatizando que seu papel era de mediação imparcial.

Questionado sobre uma conversa ocorrida um dia antes da operação que resultou na prisão de TH Joias, Bacellar admitiu o contato, mas minimizou sua importância. Ele alegou que as trocas eram informais e sem conotação criminosa. Por exemplo, em uma mensagem, TH enviou vídeos de peças de picanha em freezers, com brincadeiras sobre "roubar a carne". O contato estava salvo no celular de TH como "Predestinado", o que Bacellar explicou como uma referência a um apelido afetuoso sem maior significado.

Em outro trecho, TH escreveu: "Fala 01. Estou nesse", recebendo respostas com figurinhas de Bacellar. O presidente da Alerj interpretou isso como uma solicitação trivial, possivelmente relacionada a uma geladeira ou outro item doméstico, chamando TH de "doido" em resposta. No entanto, Bacellar negou que TH tenha perguntado diretamente se seria alvo de alguma ação policial, cortando qualquer suspeita de conivência.

As Evidências Digitais e as Contradições nas Mensagens

As mensagens extraídas do celular de TH Joias contradizem as afirmações de Bacellar, revelando um tom de proximidade que vai além do institucional. As conversas eram frequentes e informais, com emojis, figurinhas e referências pessoais que sugerem uma relação de confiança. A PF destaca que, na véspera da operação, TH buscava confirmações sobre possíveis alvos, o que poderia indicar um alerta indireto de Bacellar.

• Intensidade das trocas: Centenas de mensagens em poucos meses, cobrindo desde assuntos cotidianos até possíveis assuntos sensíveis.
• Apelidos e intimidade: O uso de "Predestinado" e respostas rápidas indicam familiaridade não compatível com uma relação meramente profissional.
• Contexto criminoso: TH Joias é ligado a lavagem de dinheiro e tráfico de armas, e as mensagens ocorrem em período de investigações ativas contra ele.

Essas evidências fortalecem a tese da PF de que Bacellar, como figura de autoridade, pode ter facilitado ações da facção ao vazar dados sigilosos. A análise pericial das mensagens continua, e o STF pode estender as investigações a outros membros da Alerj.

Conclusão: Implicações para a Política Fluminense

O caso de Rodrigo Bacellar representa um duro golpe na credibilidade da Alerj, já marcada por escândalos de corrupção e infiltrações criminosas. Com a prisão do presidente, a assembleia enfrenta um vácuo de liderança que pode paralisar votações importantes e intensificar o escrutínio público. As investigações da PF prosseguem, e o depoimento exclusivo obtido pelo Fantástico pode ser pivotal em um eventual processo no STF. Este episódio reforça a necessidade de reformas para blindar o legislativo contra influências do crime organizado, garantindo que o poder sirva ao povo e não a facções. Enquanto isso, o Rio de Janeiro aguardam respostas que restaurem a confiança nas instituições.