
G20 ignora boicote dos EUA e aprova declaração final contra a vontade de Trump
Em um ato de multilateralismo desafiador, os líderes do G20 reunidos em Joanesburgo, na África do Sul, aprovaram neste sábado (22) uma declaração fina...
Em um ato de multilateralismo desafiador, os líderes do G20 reunidos em Joanesburgo, na África do Sul, aprovaram neste sábado (22) uma declaração final abrangente, contrariando diretamente a posição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Apesar do boicote americano ao encontro, o documento de 30 páginas e 122 itens foi endossado por aclamação, reafirmando compromissos globais com a luta contra as mudanças climáticas e a defesa de instituições internacionais. Essa decisão marca uma vitória simbólica para o anfitrião, o presidente Cyril Ramaphosa, em meio a tensões diplomáticas crescentes.

Contexto do Boicote Americano e Tensões Diplomáticas
O boicote dos Estados Unidos ao G20 de Joanesburgo reflete uma crise diplomática profunda entre Washington e Pretória. Trump acusou publicamente o governo sul-africano de permitir um suposto "genocídio branco" contra fazendeiros de origem europeia, uma narrativa controversa que escalou as relações bilaterais para um ponto crítico. Como resultado, nenhuma delegação americana compareceu à cúpula, deixando os EUA isolados em um fórum que tradicionalmente busca consenso entre as maiores economias mundiais.
Essa ausência não é isolada. Desde sua posse em janeiro de 2017, Trump tem adotado uma postura isolacionista, retirando os EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas logo em seu primeiro ano de mandato. A decisão foi justificada como uma proteção aos interesses econômicos americanos, priorizando a indústria de combustíveis fósseis sobre compromissos ambientais globais. No G20, essa visão colidiu com a agenda de multilateralismo promovida por Ramaphosa, que enfatizou a necessidade de cooperação internacional para enfrentar desafios como o aquecimento global e a desigualdade econômica.
Principais Pontos da Declaração Final
A declaração, aprovada na sessão inaugural, aborda uma ampla gama de temas, com foco em sustentabilidade e governança global. Embora evite menções explícitas à responsabilidade humana pelo aquecimento global – uma concessão sutil às objeções americanas –, o texto reafirma o compromisso com a redução de emissões de gases de efeito estufa, alinhando-se aos objetivos do Acordo de Paris. Países signatários prometem intensificar esforços para limitar o aumento da temperatura global a bem abaixo de 2°C, com aspirações de 1,5°C.
Entre os destaques, o documento elogia iniciativas inovadoras como o Fundo Tropical de Florestas (TFFF), proposto pelo Brasil para a COP30 em Belém. Descrito como um "instrumento inovador" para preservação de florestas tropicais, o fundo visa mobilizar recursos financeiros de nações desenvolvidas para proteger ecossistemas vitais na América Latina, África e Ásia. Além disso, a declaração aplaude o "desfecho bem-sucedido" da cúpula, mesmo com discussões sobre mudanças climáticas ainda em curso.
- Multilateralismo: Defesa de instituições como a ONU e a OMC contra protecionismos unilaterais.
- Economia Verde: Promoção de investimentos em energias renováveis para impulsionar o crescimento sustentável.
- Desigualdade: Compromissos para reduzir disparidades entre nações ricas e em desenvolvimento.

Implicações Econômicas e Vitória para a África do Sul
Embora as decisões do G20 sejam não vinculantes – ou seja, sem força legal para obrigar os países a cumprirem os itens acordados –, o documento carrega peso simbólico significativo. Ele sinaliza uma resiliência do multilateralismo em face do unilateralismo trumpista, potencialmente influenciando negociações futuras em fóruns como o FMI e o Banco Mundial. Economicamente, a ênfase em ações climáticas pode estimular investimentos globais em tecnologias verdes, beneficiando economias emergentes como a brasileira e a sul-africana, que dependem de commodities sustentáveis.
Para Cyril Ramaphosa, a aprovação representa uma "vitória diplomática". Em seu discurso de abertura, ele alertou que a ausência de uma declaração final rebaixaria o primeiro G20 em solo africano, diminuindo seu "valor, estatura e impacto". Ramaphosa defendeu que a cúpula tem a responsabilidade de unir nações contra crises compartilhadas, como a pobreza e as mudanças climáticas, que afetam desproporcionalmente o continente africano.

Conclusão: Um Marco para o Futuro Global
A aprovação da declaração final em Joanesburgo reforça a relevância do G20 como plataforma para diálogo, mesmo sem a participação dos EUA. Enquanto Trump prioriza uma agenda nacionalista, o resto do grupo avança em direção a um mundo mais interconectado e sustentável. Essa cúpula não apenas destaca as divisões geopolíticas atuais, mas também inspira esperança para colaborações futuras, essenciais para enfrentar os desafios econômicos e ambientais do século XXI. Com o Brasil se preparando para a COP30, eventos como esse pavimentam o caminho para ações concretas que beneficiem o planeta como um todo.





