Governo avalia judicialização após derrubada de vetos à Lei do Licenciamento Ambiental, afirma Gleisi Hoffmann
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Governo avalia judicialização após derrubada de vetos à Lei do Licenciamento Ambiental, afirma Gleisi Hoffmann

Em um cenário de tensão entre o Executivo e o Legislativo, o governo federal brasileiro não descarta recorrer à judicialização para reverter a derruba...

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Em um cenário de tensão entre o Executivo e o Legislativo, o governo federal brasileiro não descarta recorrer à judicialização para reverter a derrubada de vetos presidenciais à Lei do Licenciamento Ambiental. A declaração foi feita pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, durante entrevista ao UOL News - 2ª edição, do Canal UOL. Essa medida surge como resposta à decisão do Congresso Nacional, que rejeitou parte dos 63 vetos impostos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reacendendo debates acalorados entre setores econômicos, que buscam agilizar processos, e ambientalistas, preocupados com a preservação do meio ambiente.

O licenciamento ambiental é um instrumento crucial para equilibrar desenvolvimento sustentável e proteção ecológica no Brasil, regulando atividades que podem impactar o ecossistema, como obras de infraestrutura, mineração e agropecuária. A recente rejeição de vetos compromete avanços negociados pelo governo, forçando a equipe de Lula a explorar alternativas para mitigar os efeitos da lei aprovada.

Contexto da Negociação e Derrubada de Vetos

O embate em torno da Lei do Licenciamento Ambiental não é novidade. Há anos, o Congresso discute reformas que visam simplificar os procedimentos burocráticos, mas o governo Lula buscou um equilíbrio mais rigoroso. Em 2023, o presidente vetou integralmente um projeto de lei complementar que alterava regras antigas, argumentando que as mudanças enfraqueceriam a fiscalização ambiental e contrariavam princípios constitucionais de proteção ao meio ambiente.

No entanto, em sessão conjunta no final de 2023, o Congresso derrubou vários desses vetos, reabrindo o debate. Gleisi Hoffmann lamentou a situação, destacando os esforços do governo para negociar com parlamentares. "Nós fizemos uma tentativa grande de negociação com o Congresso já há muito tempo sobre a questão do licenciamento ambiental", afirmou a ministra. Ela mencionou que, apesar de tentativas de diálogo, o Legislativo optou por rejeitar os vetos sem maiores consultas, impactando diretamente a agenda ambiental do Planalto.

Entre as medidas em discussão, o governo enviou um projeto de lei e uma Medida Provisória (MP) específica para o licenciamento ambiental especial, que vence em 5 de janeiro de 2024. Essa MP visa regular licenças para atividades de baixo impacto, mas representa apenas uma fração do escopo total da legislação.

Gleisi Hoffmann em entrevista sobre licenciamento ambiental

Declarações da Ministra e Diálogos com o Congresso

Gleisi Hoffmann detalhou em sua entrevista as conversas mantidas com líderes parlamentares, como o senador Eduardo Braga (MDB-AM), que tem atuado ativamente na pauta ambiental. "Consegui conversar com o senador Eduardo Braga. Ele me disse que o Congresso não iria derrubar os vetos relativos ao licenciamento ambiental especial e que iriam aprovar a medida provisória do governo, mas os demais vetos iriam derrubar", relatou a ministra. Essa promessa parcial, no entanto, não se concretizou integralmente, comprometendo o arcabouço legal desejado pelo Executivo.

A preocupação do governo vai além da rejeição em si: a derrubada de vetos pode flexibilizar regras que exigem estudos de impacto ambiental detalhados, aumentando riscos de desmatamento e poluição. Setores como a construção civil e o agronegócio celebram a decisão, vendo-a como um avanço para investimentos, enquanto ONGs ambientalistas, como o WWF e o Greenpeace, criticam a medida por potencializar retrocessos na agenda climática brasileira, especialmente às vésperas da COP28.

Em termos de articulação política, Gleisi enfatizou a dificuldade de construir maiorias no Congresso fragmentado. "Fomos fazendo a construção para melhorarmos essa disposição em relação ao Congresso no licenciamento ambiental. O presidente fez esses 63 vetos e tentamos de todas as formas fazer uma negociação, mas não conseguimos sucesso", completou.

Alternativas em Avaliação: De Decretos ao STF

Diante do impasse, o governo estuda uma série de opções para contornar a decisão congressional. Além da judicialização no Supremo Tribunal Federal (STF), que poderia questionar a constitucionalidade de alguns dispositivos da lei, há discussões sobre a edição de decretos executivos, portarias ministeriais e até novas MPs para regular lacunas específicas.

  • Judicialização: Recurso ao STF para analisar se a derrubada de vetos viola princípios ambientais da Constituição de 1988.
  • Decretos e Portarias: Medidas administrativas para reforçar fiscalizações e critérios de licenciamento sem alterar a lei principal.
  • Novas Negociações: Diálogos contínuos com o Congresso para aprovar projetos complementares que mitiguem impactos negativos.

Essas estratégias visam preservar o compromisso do Brasil com metas internacionais, como o Acordo de Paris e a redução de emissões de carbono. Especialistas em direito ambiental apontam que o STF tem histórico de intervenções em pautas semelhantes, como no caso da Lei da Mata Atlântica.

Sessão do Congresso Nacional debatendo vetos ambientais

Impactos Ambientais e Econômicos

A derrubada dos vetos pode acelerar projetos de infraestrutura, beneficiando a economia em um momento de recuperação pós-pandemia. No entanto, ambientalistas alertam para riscos como o aumento do desmatamento na Amazônia e a contaminação de rios por atividades minerárias sem supervisão adequada. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que o Brasil perdeu mais de 10 mil km² de cobertura vegetal em 2022, e flexibilizações poderiam agravar essa tendência.

O governo, por sua vez, busca equilibrar esses interesses, promovendo um licenciamento que seja eficiente sem comprometer a sustentabilidade. Gleisi Hoffmann ressaltou que o foco é "esperar a devolutiva do Congresso" enquanto avalia as próximas jogadas.

Debate sobre impactos ambientais da lei de licenciamento

Em conclusão, a crise em torno da Lei do Licenciamento Ambiental reflete as divisões profundas na política brasileira atual. Com o governo Lula optando por vias judiciais e administrativas, o futuro da proteção ambiental no país permanece incerto. A resolução dessa disputa não só definirá o equilíbrio entre economia e ecologia, mas também testará a capacidade de diálogo entre os poderes. Enquanto isso, a sociedade civil e o setor produtivo aguardam com expectativa os desdobramentos, na esperança de um modelo que priorize o desenvolvimento sustentável para as gerações futuras.

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