
Lula recebe bênção de pastor e deputado Otoni de Paula em encontro simbólico no Planalto
Em um gesto que transcende divisões políticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a bênção do deputado federal Otoni de Paula, pastor da A...
Em um gesto que transcende divisões políticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a bênção do deputado federal Otoni de Paula, pastor da Assembleia de Deus Missão e Vida e ex-integrante do bolsonarismo, durante uma reunião no Palácio do Planalto. O encontro, ocorrido nesta terça-feira, 23 de outubro de 2023, coincidiu com a assinatura de um decreto que reconhece a cultura gospel como manifestação cultural nacional, um aceno direto ao eleitorado evangélico. A cena, marcada por uma oração pública e mãos dadas, foi registrada em vídeo e compartilhada nas redes sociais pelos envolvidos, destacando a busca por unidade em meio à polarização brasileira.
O Encontro e a Assinatura do Decreto
O momento foi carregado de simbolismo. Logo após Lula assinar o decreto presidencial, que eleva a cultura gospel a um patamar de reconhecimento oficial, Otoni de Paula, eleito pelo MDB-RJ, liderou uma oração pelo presidente. A iniciativa reflete o esforço do governo petista em dialogar com setores evangélicos, que historicamente se alinharam mais à direita política. Presente no local, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), também evangélica, testemunhou e compartilhou o registro, ampliando o alcance do gesto.
O decreto em questão representa um avanço na inclusão cultural. Ele posiciona as expressões artísticas e musicais do universo gospel como patrimônio nacional, promovendo sua preservação e difusão. Para Otoni, essa medida insere os evangélicos na agenda de justiça social defendida por Lula. "Isso coloca nós, evangélicos, dentro da justiça social que o presidente tanto promove e tanto prega", afirmou o deputado durante o encontro, enfatizando que a igreja deve transcender rótulos partidários.

A Oração e as Mensagens de União
Durante a oração, Otoni de Paula invocou as palavras do apóstolo Pedro, do Novo Testamento: "Presidente, não tenho ouro e nem prata, disse o apóstolo Pedro. Mas o que tenho eu dou. E eu queria, em nome de Jesus, nesse momento, abençoar o senhor, orar pelo senhor, e pedir que Deus lhe ilumine, que Deus lhe guarde, que Deus lhe proteja". Ele estendeu a bênção à saúde de Lula, de sua família e de todo o governo, argumentando que orar pelo líder da nação é abençoar o povo brasileiro como um todo.
Lula, por sua vez, respondeu nas redes sociais com uma mensagem conciliadora: "A fé, o respeito e o amor não têm partido político. Quando cuidar do povo é o propósito dos governantes, Deus abençoa e capacita". Ele concluiu destacando o caráter democrático do decreto: "Reconhecer a cultura é um ato democrático. Valorizar a fé é um gesto de amor". Otoni reforçou essa visão ao declarar que "a igreja não é de direita, não é de esquerda", criticando a polarização que afeta a política nacional. Apesar das diferenças ideológicas – Otoni se define como conservador de direita, enquanto Lula é progressista de esquerda –, o deputado defendeu que a fé deve unir, não dividir.
O Contexto Político de Otoni de Paula
Otoni de Paula não é um nome novo na cena política evangélica. Eleito deputado federal em 2018 e reeleito em 2022, o parlamentar fluminense foi um dos líderes do governo Jair Bolsonaro na Câmara, atuando como ponte com as bancadas evangélicas. No entanto, seu rompimento com o ex-presidente ocorreu de forma gradual e pública. A ruptura ganhou força após Otoni coordenar a campanha do prefeito Eduardo Paes (PSD) no meio evangélico nas eleições municipais de 2020 no Rio de Janeiro, e especialmente após um encontro com Lula em outubro de 2022, durante a campanha presidencial.
Desde então, Otoni tem sido alvo de críticas e ataques de bolsonaristas radicais. Ele disparou críticas diretas a Bolsonaro, acusando-o de instrumentalizar a fé para fins políticos. Um de seus principais opositores nesse contexto é o próprio ex-presidente, cujos apoiadores o rotulam de traidor. O deputado, no entanto, mantém sua postura: "Sei que a política está polarizada, mas a igreja não pode fazer parte da polarização". Sua filiação recente ao MDB, um partido de centro, reflete essa busca por um posicionamento mais moderado.
- Impacto no eleitorado evangélico: O gesto pode ajudar Lula a reconquistar parte desse voto, que migrou em massa para Bolsonaro em 2018 e 2022.
- Desafios à polarização: Iniciativas como essa sinalizam uma possível moderação no debate público brasileiro.
- Reconhecimento cultural: O decreto abre portas para políticas de fomento à música e arte gospel, beneficiando artistas e comunidades.
Conclusão: Um Passo para o Diálogo
O encontro entre Lula e Otoni de Paula no Planalto não é apenas um episódio isolado, mas um indicativo de que o diálogo inter-religioso e político pode florescer em tempos de divisão. Ao abençoar o presidente e endossar políticas inclusivas, o deputado evangélico ex-bolsonarista reforça a ideia de que a fé deve servir ao bem comum, independentemente de ideologias. Com o decreto sobre a cultura gospel, o governo Lula avança em sua agenda de reconciliação nacional, potencializando laços com comunidades que antes pareciam distantes. Resta ver se esse gesto se traduzirá em ações concretas e em uma redução da polarização que ainda assombra o Brasil. Em um país de diversidade religiosa, gestos como esse são essenciais para construir uma democracia mais coesa e respeitosa.





