A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados protagonizou um momento de tensão política nesta semana, ao votar pela cassação do mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Com um placar apertado de 32 votos a favor da cassação e 27 contra, o resultado surpreendeu e expôs as divisões no Congresso Nacional. Essa decisão, influenciada por manobras do centrão, não é definitiva, mas sinaliza um caminho árduo para a parlamentar manter seu cargo. O caso de Zambelli, envolvida em polêmicas relacionadas a supostas ameaças e invasões cibernéticas, reflete as tensões entre o Legislativo e o Judiciário, com impactos potenciais na dinâmica partidária e na governabilidade.

O Votação na CCJ: Placar e Expectativas

A sessão da CCJ, realizada em meio a debates acalorados, contrariou o parecer inicial do relator Diego Garcia (Republicanos-PR), que defendia a manutenção do mandato de Zambelli. Garcia argumentou que a cassação caberia apenas ao plenário da Câmara em casos de condenação criminal transitada em julgado, citando elementos de possível perseguição política por parte do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele questionou a consistência das provas, especialmente o depoimento do hacker Walter Delgatti, principal testemunha de acusação, afirmando que não havia elementos concretos contra a deputada.

O placar de 32 a 27 era previsto como apertado. Minutos antes da votação, o relator admitiu a dificuldade em conquistar apoio suficiente, prevendo uma margem mínima. A manobra do centrão, bloco de partidos de centro que detém influência decisiva no Congresso, foi crucial para inclinar a balança contra Zambelli. Partidos como PP e Republicanos, tradicionalmente aliados do governo, se dividiram, mas a maioria optou pela cassação, possivelmente para evitar confrontos maiores com o STF.

Os Deputados que Votaram a Favor e Contra a Cassação

A votação expôs as alianças frágeis no Congresso. Embora listas completas sejam públicas nos registros oficiais da Câmara, é possível destacar os principais posicionamentos partidários. Deputados de legendas oposicionistas, como PT e PSOL, foram unânimes em favor da cassação, vendo no caso uma oportunidade de enfraquecer o bolsonarismo remanescente. Já aliados do PL, como alguns do PL e do PP, defenderam Zambelli, alegando interferência judicial indevida.

• A favor da cassação (exemplos principais): Inclui nomes como Átila Lira (PP-PA), Baleia Rossi (MDB-SP), e deputados do PT como Lindbergh Farias (RJ), que argumentaram pela gravidade das acusações de ameaça a autoridades.
• Contra a cassação (exemplos principais): Diego Garcia (Republicanos-PR), o relator, liderou a defesa, ao lado de Carla Zambelli e outros do PL, como Ricardo Salles (SP), que enfatizaram a falta de provas robustas.

Esses votos revelam não apenas divisões ideológicas, mas também negociações de bastidores, onde o centrão trocou apoios por emendas parlamentares e cargos em comissões.

O Caminho Adiante: Novo Relator e Votação no Plenário

Com a rejeição do parecer original, a CCJ agora avança para um novo relatório, elaborado por Cláudio Cajado (PP-BA), que deve endossar a cassação, alinhando-se à maioria da comissão. Cajado destacou que Zambelli, atualmente presa e impossibilitada de exercer plenamente suas funções, representa um risco à imagem do Legislativo. "A CCJ já decidiu que a absolvição não procede; agora, é hora de respeitar a decisão da maioria e prosseguir para o plenário", afirmou o novo relator.

O próximo passo é a votação em plenário, onde os 513 deputados decidirão o destino de Zambelli. Para manter o mandato, ela precisa de pelo menos 257 votos favoráveis – um terço mais um do total. Analistas políticos preveem uma batalha intensa, com o governo Lula mobilizando sua base para apoiar a cassação, enquanto a oposição bolsonarista tenta reverter o quadro. O caso pode influenciar a coesão do centrão e as negociações para a reforma tributária, já que alianças políticas estão em jogo.

Implicações Políticas e Jurídicas

Além do aspecto imediato, o processo contra Zambelli levanta questões sobre a independência dos poderes. Garcia apontou "baixa consistência" nas declarações de Delgatti e sugeriu que Moraes, que julga o caso, poderia ter motivações pessoais, ecoando críticas comuns da direita à atuação do STF. No entanto, juristas consultados enfatizam que a cassação é uma prerrogativa exclusiva da Câmara, mas deve ser pautada por fatos, não por retórica.

Conclusão: Um Caso que Define o Futuro do Congresso

A votação na CCJ para cassar Carla Zambelli não é apenas um episódio isolado, mas um termômetro das tensões entre bolsonarismo, centrão e instituições. Com o novo parecer encaminhado e o plenário à vista, o desfecho pode redefinir alianças e impactar a agenda legislativa. Enquanto Zambelli luta por sua sobrevivência política, o Brasil acompanha de perto como o Congresso navegará esse mar de controvérsias, equilibrando justiça, política e democracia. O resultado final, esperado nas próximas semanas, promete ecoar além das paredes do Palácio do Planalto.