
'Seguiremos trabalhando com o governo chileno', diz Lula após eleição de presidente de direita no Chile
Em um gesto de diplomacia e continuidade nas relações bilaterais, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva felicitou o presidente eleito do C...
Em um gesto de diplomacia e continuidade nas relações bilaterais, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva felicitou o presidente eleito do Chile, José Antonio Kast, logo após a vitória do político de direita nas eleições presidenciais realizadas no domingo (14). A mensagem de Lula, publicada em suas redes sociais, reforça o compromisso do Brasil em manter laços fortes com o vizinho sul-americano, apesar das diferenças ideológicas entre os governos. Essa eleição marca uma guinada à direita no Chile, em meio a crescentes preocupações com a segurança pública e o desempenho econômico.

A Vitória de José Antonio Kast nas Eleições Chilenas
José Antonio Kast, líder do Partido Republicano, obteve mais de 58% dos votos válidos, conforme dados divulgados pelo Serviço Eleitoral do Chile (Servel). Com 15,6 milhões de eleitores aptos, a eleição atraiu grande atenção regional, especialmente por ocorrer em um momento de instabilidade política na América do Sul. Kast, de 59 anos, superou sua adversária de esquerda, Jeanette Jara, que reconheceu a derrota em uma postagem no X (antigo Twitter). "A democracia falou forte e claro. Acabo de falar com o presidente eleito José Antonio Kast para desejar-lhe êxito pelo bem do Chile", escreveu Jara, ex-ministra do Trabalho no governo de Gabriel Boric.
A trajetória de Kast nas pesquisas já indicava favoritismo desde o primeiro turno, onde ele se beneficiou da fragmentação da esquerda e da soma de votos da direita, que ultrapassou 50%. Sua campanha focou em temas como segurança e ordem, ressoando com eleitores frustrados com o aumento da criminalidade. Embora o Chile seja considerado um dos países mais seguros da região, pesquisas do Ipsos revelam que 63% da população veem o crime como a principal preocupação. Os homicídios aumentaram 140% nos últimos dez anos, e o país registrou 868 sequestros em 2024, um crescimento de 76% em comparação a 2021.
A Resposta Diplomática de Lula e as Relações Bilaterais
Na publicação em suas redes sociais, Lula expressou otimismo quanto ao futuro mandato de Kast. "Faço votos de pleno êxito ao presidente eleito no desempenho de seu futuro mandato", iniciou o presidente brasileiro. Em seguida, enfatizou a continuidade da cooperação: "Seguiremos trabalhando com o novo governo chileno em favor do fortalecimento das excelentes relações bilaterais, dos sólidos laços econômico-comerciais que unem Brasil e Chile, pela integração regional e a manutenção da América do Sul como zona de paz".
Essa declaração reflete a tradição diplomática brasileira de priorizar o diálogo e a estabilidade regional, independentemente de alinhamentos ideológicos. O Brasil e o Chile mantêm parcerias robustas no âmbito do Mercosul e da Aliança do Pacífico, com trocas comerciais que ultrapassaram US$ 10 bilhões em 2023, impulsionadas por exportações de commodities como soja e minério do lado brasileiro, e cobre e frutas do chileno. Lula, que assumiu a presidência em 2023 com uma agenda progressista, demonstra maturidade ao estender a mão ao novo líder conservador, evitando polarizações que poderiam afetar a integração sul-americana.

Contexto Político: Alternância de Poder e Desafios no Chile
Desde 2010, o Chile tem experimentado uma alternância entre governos de direita e esquerda a cada eleição presidencial, um padrão que reflete a maturidade democrática do país, mas também suas divisões profundas. O atual presidente Gabriel Boric, de centro-esquerda, enfrentou críticas por reformas econômicas lentas e o agravamento da insegurança. Jara, que venceu o primeiro turno, representava a continuidade dessa coalizão, mas propostas de Kast sobre endurecimento no combate ao crime – como maior rigor nas penas e fortalecimento das forças policiais – conquistaram o eleitorado.
Principais promessas de Kast incluem:
- Endurecimento das políticas de segurança pública, com foco em redução de homicídios e sequestros.
- Reformas econômicas liberais para atrair investimentos estrangeiros.
- Manutenção de alianças internacionais, incluindo com os Estados Unidos, mas sem romper laços regionais.
Esses temas ganham relevância em um contexto de migração irregular e narcotráfico na fronteira norte, que alimentam o discurso conservador. Analistas apontam que a vitória de Kast pode influenciar eleições em outros países da região, como Argentina e Brasil, testando a resiliência da esquerda progressista.

Conclusão: Rumos para a Integração Sul-Americana
A eleição de José Antonio Kast representa não apenas uma mudança no panorama político chileno, mas também um teste para a coesão regional. A mensagem conciliatória de Lula sinaliza que o Brasil está disposto a priorizar interesses comuns, como comércio e paz, sobre divergências ideológicas. Com desafios como criminalidade e instabilidade econômica persistindo, a América do Sul precisará de lideranças colaborativas para avançar. O mandato de Kast, que inicia em março de 2026, será observado de perto, especialmente por vizinhos como o Brasil, que buscam uma zona de prosperidade compartilhada.





