
Mulher Indígena Detida por Pichar Estátua Durante Protesto Contra PL da Dosimetria em Belo Horizonte
Em um ato de manifestação que ganhou as ruas de Belo Horizonte, uma mulher indígena foi detida pela Guarda Municipal ao pichar uma estátua histórica d...
Em um ato de manifestação que ganhou as ruas de Belo Horizonte, uma mulher indígena foi detida pela Guarda Municipal ao pichar uma estátua histórica durante um protesto contra o Projeto de Lei da Dosimetria. O incidente, ocorrido no domingo (14/12), destaca as tensões entre ativismo social e patrimônio cultural, reacendendo debates sobre direitos indígenas e a preservação de símbolos públicos. Thabata Pinheiro Campos, de 37 anos, da etnia Borun Xonin, utilizou spray vermelho para inscrever a mensagem "Brasil Terra Indígena" no Monumento à Terra Mineira, localizado na Praça da Estação. O episódio reflete não apenas a fúria contra propostas legislativas controversas, mas também a luta por visibilidade das comunidades originárias no Brasil contemporâneo.
O Protesto e a Detenção da Ativista
O protesto contra o PL da Dosimetria, que visa alterar a forma como penas são calculadas no sistema penal brasileiro, reuniu dezenas de manifestantes em Belo Horizonte. A concentração inicial ocorreu na Praça Raul Soares, no bairro Santa Efigênia, e o grupo seguiu em marcha pela Praça Sete de Setembro, no coração da cidade. A dispersão, no entanto, terminou de forma tumultuada na Praça da Estação, no Centro, onde câmeras de monitoramento capturaram o momento em que Thabata Campos se aproximou do monumento e aplicou a pichação.

De acordo com a Guarda Municipal, a ativista resistiu à abordagem inicial dos agentes, o que levou à sua detenção imediata. Ela foi encaminhada à autoridade policial para o registro da ocorrência. Seu advogado, Dr. Gabriel Brum, confirmou que Thabata foi ouvida e liberada ainda na noite de domingo. "Thabata é uma mulher indígena que expressou sua indignação de forma pacífica, mas impactante, em defesa de seus direitos e dos povos originários", declarou o defensor. O caso agora prossegue na esfera criminal, com investigações sobre os danos causados ao patrimônio público.
Detalhes da Infração e o Significado da Estátua
A pichação é classificada como infração administrativa pela legislação municipal de Belo Horizonte, sujeita a multa que pode variar de R$ 500 a R$ 5.000, dependendo da extensão dos danos. Além disso, há possibilidade de responsabilização criminal por dano ao patrimônio cultural, conforme o Código Penal (artigo 163), com penas que podem chegar a três anos de detenção. A ativista também pode ser obrigada a reparar os prejuízos, incluindo a limpeza e restauração da estátua.

O Monumento à Terra Mineira, inaugurado em 15 de julho de 1930, é uma obra do escultor italiano Giulio Starace, erguida em granito na esplanada da Praça da Estação, em frente ao Museu de Artes e Ofícios. A escultura simboliza o domínio territorial pelos bandeirantes e a luta pela liberdade dos mártires mineiros da Inconfidência. Composta por uma figura alegórica de Minas Gerais e quatro relevos no bloco central, representa um capítulo controverso da história brasileira, frequentemente criticado por narrativas que romantizam a colonização e ignoram as perspectivas indígenas. A escolha do local pela manifestante não foi aleatória: a estátua, para muitos ativistas, encarna uma visão eurocêntrica que o protesto busca contestar.
- Elementos da obra: Figura central de Minas; relevos representando bandeirantes e inconfidentes.
- Contexto histórico: Homenagem aos 200 anos da Independência do Brasil, mas questionada por omitir vozes nativas.
- Impacto da pichação: Mancha vermelha na base, removida rapidamente, mas que gerou repercussão nas redes sociais.
Contexto do PL da Dosimetria e Repercussões Sociais
O Projeto de Lei da Dosimetria, em tramitação no Congresso Nacional, propõe critérios mais rígidos para a individualização das penas, o que críticos argumentam pode agravar desigualdades no sistema judiciário, especialmente para populações vulneráveis como indígenas e periféricas. Manifestantes, incluindo grupos indígenas como o da etnia Borun Xonin, veem na proposta uma ameaça à justiça social, alegando que ela ignora contextos culturais e socioeconômicos. O protesto em Belo Horizonte foi parte de uma série de ações nacionais contra o PL, que já mobilizou entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e organizações de direitos humanos.

Especialistas em direito penal destacam que, embora a dosimetria vise maior equidade, sua implementação sem debates amplos pode perpetuar vieses raciais e classistas. No caso de Thabata, sua identidade indígena adiciona camadas ao debate: a mensagem "Brasil Terra Indígena" ecoa reivindicações por reconhecimento territorial e cultural, em um país onde povos originários enfrentam violações constantes de direitos fundamentais.
Em conclusão, a detenção de Thabata Campos transcende um simples ato de vandalismo, servindo como catalisador para discussões urgentes sobre patrimônio, ativismo e legislação penal no Brasil. Enquanto o caso avança judicialmente, ele reforça a necessidade de políticas inclusivas que ouçam as vozes marginalizadas. Belo Horizonte, com sua rica história de resistência, mais uma vez se posiciona no centro dessas transformações sociais.





