STF Reconhece Racismo Estrutural Contra Negros, Mas Não Vê Omissão do Estado
Brasil4 min de leitura658 palavras

STF Reconhece Racismo Estrutural Contra Negros, Mas Não Vê Omissão do Estado

Em um marco histórico para a luta contra a desigualdade racial no Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, por unanimidade, a existência d...

Compartilhar:

Em um marco histórico para a luta contra a desigualdade racial no Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu, por unanimidade, a existência do racismo estrutural que afeta sistematicamente a população negra. A decisão, proferida em julgamento realizado na quinta-feira, 18 de outubro de 2024, destaca as violações contínuas de direitos fundamentais e impõe ao governo federal a elaboração de um novo plano nacional de combate à discriminação racial, com prazo de até 12 meses. Essa medida surge em meio a um contexto de profundas desigualdades sociais, onde o racismo não é mero incidente isolado, mas uma estrutura enraizada nas instituições do país.

Sessão do STF reconhecendo racismo estrutural no Brasil

Medidas Prioritárias para Combater o Racismo Estrutural

O STF determinou uma série de ações concretas para enfrentar o problema. No âmbito da segurança pública, a Corte enfatizou a necessidade de reduzir a letalidade policial, que desproporcionalmente vitima negros. Dados alarmantes do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) revelam que, apenas em 2024, 3.066 pessoas negras foram mortas pela polícia em todo o território nacional, representando 86% do total de vítimas. Essa disparidade reflete um padrão de violência institucional que perpetua o ciclo de marginalização.

Além disso, o plano nacional deve incluir políticas específicas para combater a fome entre a população negra. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 70% das famílias brasileiras em situação de insegurança alimentar são chefiadas por pessoas pretas ou pardas. Na área da saúde, intervenções urgentes são exigidas, uma vez que a desigualdade econômica expõe negros a maiores riscos de mortalidade por doenças como tuberculose e desnutrição, diretamente ligadas à pobreza crônica.

Políticas de Cotas e Contexto Legislativo Recente

Outra determinação crucial do STF é a manutenção e revisão das políticas de cotas raciais em educação e emprego. A Corte identificou a necessidade de aprimorar metodologias que se mostraram pouco efetivas, garantindo maior impacto na inclusão social. Essa decisão ganha relevância uma semana após a Assembleia Legislativa de Santa Catarina aprovar uma lei que proíbe reservas de vagas em universidades estaduais com base em critérios de cor ou raça, medida que contraria avanços nacionais e pode ser questionada judicialmente.

O racismo estrutural, conforme definido pelo relator Luiz Fux, manifesta-se em desigualdades persistentes em acesso a direitos básicos, como moradia, educação e justiça. Os dez ministros presentes na sessão — com uma vaga ainda aberta na Corte — seguiram integralmente o voto de Fux, reforçando a responsabilidade do Estado em mitigar essas injustiças históricas.

Ícone representando análise judicial no STF

Ação Judicial e Limites da Decisão

A decisão atende a uma Ação por Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) ajuizada em 2022 por sete partidos de esquerda: PT, PSOL, PSB, PCdoB, Rede Sustentabilidade, PDT e PV. Os autores argumentaram pela existência de um "estado de coisas inconstitucional" devido às violações sistemáticas de direitos das pessoas negras. No entanto, o STF rejeitou esse pedido específico, entendendo que não há omissão deliberada do Estado, mas sim a necessidade de ações mais robustas e coordenadas.

Essa distinção é crucial: enquanto o reconhecimento do racismo estrutural abre portas para responsabilização, a negativa de omissão estatal evita uma declaração mais drástica que poderia paralisar políticas públicas. Especialistas em direitos humanos veem na decisão um avanço, mas alertam para a importância de sua implementação efetiva, monitorada pelo Judiciário.

Ícone simbolizando combate à desigualdade racial

Conclusão: Um Passo Rumo à Igualdade Real

A decisão do STF representa um divisor de águas na agenda de equidade racial no Brasil, um país marcado por séculos de escravidão e herança colonial. Ao impor um plano nacional abrangente, a Corte não apenas diagnostica o problema, mas exige soluções práticas em áreas críticas como segurança, saúde e educação. Contudo, o sucesso dependerá da vontade política do governo federal e da sociedade civil para transformar palavras em ações concretas. Em um momento de polarização, essa medida reforça o compromisso constitucional com a dignidade humana, pavimentando o caminho para um Brasil mais justo e inclusivo. A expectativa é que, em 12 meses, vejamos os primeiros frutos de um combate efetivo ao racismo estrutural.

Categorias:Brasil

Últimos Posts