
A vida discreta no cárcere de Robinho, que trava luta nos tribunais por liberdade
Era 26 de agosto de 2005 quando Robinho, com apenas 21 anos, pisou pela primeira vez na Espanha para se tornar o novo astro do Real Madrid, o gigante...
Era 26 de agosto de 2005 quando Robinho, com apenas 21 anos, pisou pela primeira vez na Espanha para se tornar o novo astro do Real Madrid, o gigante do futebol mundial. Nascido em São Vicente, na Baixada Santista, o atacante brasileiro construiu uma carreira meteórica na Europa, passando por clubes como Manchester City e Milan, antes de retornar ao Santos, o time que o lançou ao estrelato. Mais de duas décadas depois, porém, sua trajetória tomou um rumo sombrio e melancólico. Em março de 2024, Robinho, agora com 40 anos, trocou as luzes dos estádios pelo uniforme prisional do sistema penitenciário paulista. Condenado pela Justiça italiana a nove anos de prisão por participação em um estupro coletivo em 2013, ele percorreu cerca de 250 quilômetros de Tremembé a Limeira, no interior de São Paulo, em busca de mais discrição e tranquilidade.

Da glória nos gramados à sombra da prisão
A ascensão de Robinho no futebol foi rápida e brilhante. Revelado pelo Santos em 2002, ele conquistou títulos como a Libertadores de 2011 e chamou atenção de olheiros europeus. No Real Madrid, entre 2005 e 2008, disputou 101 jogos e marcou 28 gols, formando uma dupla memorável com Ronaldo Fenômeno. Sua passagem pelo Manchester City, em 2008, rendeu 40 partidas e 15 gols, enquanto no Milan, de 2010 a 2014, ele ergueu a Copa do Mundo de Clubes da FIFA em 2010. Ao todo, Robinho acumula mais de 600 jogos profissionais e passagens por seleções brasileiras em três Copas do Mundo.
No entanto, o caso que mudou tudo ocorreu em 2013, durante sua segunda passagem pelo Milan. Em uma boate em Milão, Robinho e outros cinco brasileiros foram acusados de estuprar coletivamente uma jovem albanesa de 22 anos. A condenação veio em 2022, após anos de apelações, com a pena confirmada em última instância pela Suprema Corte italiana. Extraditado para o Brasil, que não permite a extradição de nacionais, Robinho iniciou o cumprimento da pena em regime fechado no presídio de Tremembé, a cerca de 150 km de São Paulo.
A mudança para Limeira: em busca de paz no cárcere
A transferência para o Centro de Ressocialização de Limeira, solicitada pelo próprio Robinho, foi motivada pelo incômodo com a exposição midiática. O presídio de Tremembé ganhou holofotes com a série "Tremembé", da Prime Video, que dramatiza a vida no sistema prisional paulista. Inaugurado em 1955, o local abriga 452 detentos, com vagas ociosas, mas a visibilidade aumentou a pressão sobre o ex-jogador.
Limeira, construído em 2001, é uma unidade mais moderna e compacta, com capacidade para 229 presos, mas atualmente lotada com 256. Exclusiva para réus primários com penas de até dez anos e sem ligações com facções criminosas, a prisão oferece estrutura para ressocialização. Embora detalhes internos sejam sigilosos por razões de segurança, sabe-se que o local conta com alojamentos coletivos, oficinas de trabalho, salas de aula para educação básica e profissionalizante, lavanderia, quadra esportiva, refeitório e até uma horta mantida pelos detentos. Projetos de remição de pena por leitura, estudo e labor incentivam a reinserção social, beneficiando tanto o regime fechado quanto o semiaberto.
Robinho, que se mantém discreto, participa de atividades rotineiras, como todos os detentos. Sua rotina inclui horários rígidos para refeições, lazer e trabalho, com visitas familiares limitadas. A unidade prioriza a disciplina e a reabilitação, contrastando com a fama agitada de sua vida anterior.
A batalha judicial pela liberdade
Enquanto se adapta à vida atrás das grades, Robinho não desistiu da luta nos tribunais. O caso se arrastou por anos: a denúncia inicial em 2013 levou a uma condenação em primeira instância em 2017, confirmada em apelações até 2022. No Brasil, ele recorre ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF), argumentando violação ao princípio da soberania nacional e questionando a validade da pena cumprida aqui. Seus advogados alegam que o Brasil não pode impor uma sentença estrangeira sem processo local, invocando tratados internacionais.
Especialistas em direito penal observam que casos como esse testam os limites da cooperação jurídica Brasil-Itália. Até o momento, os recursos não prosperaram, mas Robinho pode apelar à Corte Interamericana de Direitos Humanos. A defesa também destaca que ele sempre negou as acusações, alegando consensualidade no encontro.
- Principais argumentos da defesa: Incompetência da Justiça italiana para julgar crimes fora de seu território em casos de não extradição.
- Posição da acusação: Cumprimento da pena no Brasil como forma de justiça transnacional, evitando impunidade.
- Impacto social: O caso reacende debates sobre violência sexual no esporte e responsabilidade de celebridades.
A trajetória de Robinho, outrora sinônimo de dribles e alegria nos campos, agora é marcada pela reflexão sobre escolhas e consequências. Sua permanência em Limeira representa não só uma pausa forçada, mas um capítulo de redenção possível através da ressocialização.
Em conclusão, o caso de Robinho ilustra as complexidades da fama, da justiça internacional e da vida após o esporte. Enquanto os tribunais deliberam, ele vive dias discretos, longe dos aplausos, mas com a esperança de um futuro diferente. A sociedade brasileira acompanha, questionando como equilibrar punição e reabilitação em um sistema penitenciário sobrecarregado.





