
Alemanha e Espanha pressionam UE para avançar com acordo Mercosul em meio a resistências
Em um momento crucial para o comércio internacional, a União Europeia (UE) enfrenta divisões internas sobre o acordo de livre comércio com o Mercosul....
Em um momento crucial para o comércio internacional, a União Europeia (UE) enfrenta divisões internas sobre o acordo de livre comércio com o Mercosul. Enquanto a França mantém uma postura de resistência, liderada pelo presidente Emmanuel Macron, Alemanha e Espanha emergem como vozes fortes a favor da ratificação do tratado, negociado há mais de duas décadas. Durante a cúpula da UE em Bruxelas, nesta quinta-feira (18), líderes como o chanceler alemão Friedrich Merz e o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez defenderam o avanço do acordo com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, destacando sua importância estratégica em um mundo marcado por tensões comerciais globais.

Pressões da Alemanha e Espanha pela Ratificação
A Alemanha, uma das maiores economias da Europa, vê no acordo uma oportunidade para fortalecer sua posição no mercado global. Friedrich Merz, em sua declaração durante a cúpula, enfatizou a urgência da decisão: "Se a União Europeia quiser manter credibilidade na política comercial global, decisões precisam ser tomadas agora". Para Berlim, o tratado não é apenas econômico, mas também geopolítico, ajudando a contrabalançar as tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos europeus e a reduzir a dependência excessiva da China em matérias-primas e minerais críticos.
Da mesma forma, a Espanha, com laços históricos profundos com a América Latina, posiciona-se como defensora fervorosa. Pedro Sánchez argumentou que o acordo é essencial para elevar o peso da Europa no cenário geoeconômico. "Este acordo é o primeiro de muitos que precisam acontecer para que a Europa ganhe peso geoeconômico e geopolítico em um momento em que esse papel está sendo questionado por adversários claros, como Putin, ou até mesmo por aliados tradicionais", declarou o primeiro-ministro. Países nórdicos, como Suécia e Finlândia, também apoiam a iniciativa, vendo nela uma diversificação de mercados que pode mitigar riscos de instabilidade global.
Histórico e Benefícios do Acordo Mercosul-UE
Negociado por cerca de 25 anos, o acordo entre a UE e o Mercosul representa um marco no comércio bilateral, abrangendo mais de 700 milhões de consumidores. Politicamente acordado no ano passado, o tratado agora entra em uma fase decisiva de ratificação, com potencial para eliminar tarifas sobre 91% dos bens comercializados entre os blocos. Para a Europa, isso significa maior acesso a produtos agrícolas sul-americanos, como carne bovina e soja, enquanto o Mercosul ganha entrada facilitada em mercados industriais europeus.
Os benefícios vão além do econômico: em um contexto de guerras comerciais e cadeias de suprimentos frágeis, o acordo pode impulsionar o crescimento sustentável. Especialistas estimam que ele gere um aumento de até 4% no PIB da UE a longo prazo, promovendo investimentos em energias renováveis e mineração responsável no Brasil e na Argentina. No entanto, críticos apontam riscos ambientais, como o desmatamento na Amazônia, o que levou a cláusulas de sustentabilidade no texto final.

Oposições e Desafios Internos na UE
A resistência francesa é um dos maiores obstáculos. O presidente Macron tem reiterado que o acordo não pode ser assinado em sua forma atual, citando preocupações com padrões ambientais e a concorrência desleal de produtos agrícolas do Mercosul. Agricultores franceses e de outros países, como a Polônia e a Itália, organizaram protestos intensos em Bruxelas, com queima de pneus e confrontos com a polícia, temendo perdas de mercado para importações baratas de carne e grãos.
Além disso, figuras influentes, como o dono da quarta maior rede de supermercados da França, ameaçaram boicotar produtos do Mercosul, chamando-os de "Shein da concorrência desleal". Esses protestos destacam as divisões regionais na UE: enquanto nações exportadoras como Alemanha e Espanha veem ganhos, produtores rurais em França e Países Baixos sentem-se ameaçados. O Conselho Europeu agora deve equilibrar esses interesses para evitar paralisia nas negociações.
Em conclusão, o acordo Mercosul-UE está no centro de um debate que reflete as contradições da Europa contemporânea: ambições globais versus proteções locais. Com pressões crescentes de Alemanha e Espanha, e a cúpula em Bruxelas como ponto de virada, a ratificação pode redefinir o comércio transatlântico. No entanto, sem concessões às oposições, o tratado arrisca ficar engavetado, perpetuando incertezas em um mundo cada vez mais interconectado. A decisão final, esperada nas próximas semanas, será um teste para a coesão da UE.





