
Alta Procura por Ozempic e Mounjaro Gera Efeito Colateral: o Surgimento das Gangues das Canetas
No dia 28 de outubro, o taxista Marcelo Silveira, de 57 anos, parou em uma farmácia no bairro do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, por volta das 22 h...
No dia 28 de outubro, o taxista Marcelo Silveira, de 57 anos, parou em uma farmácia no bairro do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, por volta das 22 horas, durante sua rotina de trabalho. Mal teve tempo de interagir com os atendentes quando quatro bandidos armados invadiram o local. Um deles, confundindo Silveira com um segurança, disparou um tiro em sua cabeça. O taxista faleceu no dia seguinte, vítima de um assalto motivado pela busca por medicamentos conhecidos como "canetas emagrecedoras", como Ozempic, Wegovy e Mounjaro. Esses produtos, usados para tratar obesidade e diabetes, custam a partir de R$ 1.000 por unidade e se tornaram alvos cobiçados por ladrões em todo o país, transformando farmácias em zonas de alto risco.

O Boom das Canetas Emagrecedoras e Seu Impacto Social
A popularidade explosiva de medicamentos como Ozempic (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida) é impulsionada por celebridades e influenciadores que os promovem como soluções milagrosas para perda de peso. Originalmente aprovados para controle de diabetes tipo 2, esses inibidores de apetite ganharam fama global por seus efeitos emagrecimento, levando a uma demanda sem precedentes. No Brasil, a escassez de estoque nas farmácias, agravada pela alta do dólar e pela produção limitada, fez com que os preços disparassem, tornando cada caneta um item valioso no mercado negro.
Essa febre não é exclusiva do Brasil. Nos Estados Unidos e na Europa, relatos semelhantes de furtos e roubos a farmácias e até invasões domiciliares por esses remédios já circulam na mídia. No contexto brasileiro, a situação se agrava pela desigualdade social e pela facilidade de revenda desses produtos em plataformas online ou no submundo criminal. Especialistas em saúde alertam que o uso indiscriminado desses medicamentos, sem prescrição médica, pode levar a efeitos colaterais graves, como problemas gastrointestinais e desequilíbrios hormonais, mas o apelo estético supera os riscos para muitos consumidores.
A Escalada de Violência nas Farmácias Brasileiras
O aumento nos assaltos a drogarias representa uma mudança drástica no panorama da segurança urbana. Em São Paulo, por exemplo, de janeiro a outubro deste ano, foram registrados 259 roubos a farmácias, um número alarmante comparado a 2022, quando não houve ocorrências específicas relacionadas a esses medicamentos. Antes da chegada das "canetas emagrecedoras", os alvos principais eram eletrônicos ou dinheiro, mas agora os criminosos focam em estoques de Ozempic e similares, que podem ser revendidos por valores exorbitantes.
Essa nova tendência criminosa afeta não só os proprietários de farmácias, mas toda a cadeia de atendimento ao público. Estabelecimentos que operavam 24 horas agora fecham à noite, e muitos instalam grades, câmeras e seguranças armados nas portas. A violência se espalha para outros estados, com relatos de assaltos em Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, onde gangues organizadas monitoram entregas de fornecedores para emboscar veículos de distribuição.
Respostas Institucionais e Medidas Preventivas
Diante da crise, a Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) formou um comitê com representantes das 29 maiores redes farmacêuticas do país. O objetivo é monitorar a "crescente incidência de furtos e roubos", compartilhar inteligência interna e propor ações preventivas, como treinamentos para funcionários e parcerias com polícias locais. "Nunca na história da entidade cogitamos uma abordagem nessa área, mas essa mudança demonstra a gravidade e a insegurança dos tempos atuais", afirma Sergio Mena Barreto, CEO da Abrafarma.
- Monitoramento de dados: Coleta de estatísticas em tempo real para mapear áreas de risco.
- Compartilhamento de inteligência: Troca de informações entre redes para antecipar assaltos.
- Medidas de segurança: Investimentos em tecnologia, como alarmes conectados a forças de segurança.
Autoridades policiais também intensificaram patrulhas em regiões comerciais, mas especialistas pedem regulamentações mais rígidas na distribuição desses medicamentos para reduzir a atratividade para criminosos.
Conclusão: Um Desafio para a Saúde e a Segurança Pública
A alta demanda por Ozempic e Mounjaro, inicialmente vista como uma revolução na saúde, revela um lado sombrio: o fomento a uma onda de criminalidade que ameaça vidas inocentes, como a de Marcelo Silveira. Enquanto governos e entidades buscam soluções, é essencial educar a população sobre os riscos do uso irresponsável desses fármacos e investir em políticas que equilibrem inovação médica com segurança pública. Sem ações coordenadas, as "gangues das canetas" podem se tornar um sintoma persistente de uma sociedade onde o desejo por beleza impulsiona o caos.



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