
Análise de Leonardo Sakamoto: PL tenta premiar Bolsonaro com anistia após violação de tornozeleira
No cenário político brasileiro, tensões continuam a fervilhar após o episódio envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua tornozeleira eletrônica....
No cenário político brasileiro, tensões continuam a fervilhar após o episódio envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua tornozeleira eletrônica. O colunista Leonardo Sakamoto, em sua análise no UOL News - 2ª edição, do Canal UOL, criticou duramente a estratégia do Partido Liberal (PL), que parece buscar uma anistia para Bolsonaro como uma espécie de "prêmio" pelo suposto rompimento do dispositivo de monitoramento. Essa movimentação ocorre em meio a um contexto de instabilidade, onde o bolsonarismo tenta se reorganizar politicamente, mas enfrenta resistências em múltiplas frentes. Sakamoto destaca que, apesar dos esforços do PL para mobilizar sua base na Câmara dos Deputados, a proposta esbarra em barreiras significativas no Senado, no Supremo Tribunal Federal (STF) e até entre aliados do centrão, preocupados com o impacto eleitoral negativo.

Contexto do Incidente e as Coincidências Polêmicas
O episódio ganhou contornos de controvérsia quando Bolsonaro foi detido em 22 de novembro, data que coincide numericamente com o número do PL – o partido 22. Essa "coincidência cósmica", como Sakamoto ironiza, irritou muitos membros do PL e deputados bolsonaristas, que interpretaram a prisão como uma provocação deliberada do Judiciário. No entanto, o colunista esclarece que não há qualquer relação intencional: a detenção resultou diretamente das ações da própria família Bolsonaro. No dia 21, o ex-presidente teria tentado violar a tornozeleira, e seu filho, Eduardo Bolsonaro, postou nas redes sociais um chamamento para uma vigília, o que acelerou a resposta do STF.
Essa sequência de eventos não foi orquestrada pelo Supremo, mas sim precipitada pelas atitudes do entorno de Bolsonaro. Sakamoto enfatiza que o PL, ao invés de se distanciar, optou por abraçar a narrativa de vitimização. Deputados bolsonaristas inundaram as redes com postagens acusando o sistema de perseguição política, ampliando o eco do incidente. Essa reação reflete uma tática recorrente do bolsonarismo: transformar reveses judiciais em munição para mobilizar a base fiel, mesmo que isso custe credibilidade junto a setores moderados da sociedade.
Estratégia do PL: Ataque como Melhor Defesa
O PL, sob a liderança de figuras como Valdemar Costa Neto, adota uma abordagem agressiva, reminiscentemente da velha máxima futebolística de que "a melhor defesa é o ataque". A proposta de anistia ou redução de penas para condenados por atos golpistas, como os envolvidos nos eventos de 8 de janeiro de 2023, surge como uma tentativa de inverter o roteiro. Sakamoto aponta que o partido explora fissuras recentes, como o rompimento do deputado Hugo Motta com o senador Lindbergh Farias e as frustrações de Davi Alcolumbre com o governo Lula por conta da indicação de Flávio Dino ao STF.
No entanto, essa jogada é arriscada. O bolsonarismo, apesar de forte na Câmara – onde o PL detém uma bancada robusta –, não opera isolado. Para avançar projetos como a anistia, precisa de apoio da sociedade mais ampla, que permanece chocada com os desdobramentos do 8 de janeiro. Sakamoto argumenta que uma votação favorável no Congresso seria vista como uma resposta "patética e ridícula" ao derretimento da tornozeleira, potencializando danos à imagem do PL e de seus aliados. Além disso, o centrão, pragmático por natureza, hesita em endossar medidas que possam alienar eleitores indecisos em ano pré-eleitoral.

Desafios no Senado e no STF: Um 'Tudo ou Nada'
A viabilidade da anistia é questionável em múltiplas instâncias. Na Câmara, o PL pode forçar pautas com sua maioria, mas o Senado representa um obstáculo intransponível para o momento. Líderes como Rodrigo Pacheco priorizam agendas de consenso, e a proposta bolsonarista é vista como tóxica. Sakamoto destaca que, mesmo com manobras como a exploração de descontentamentos internos no governo, o avanço é improvável. No STF, a barreira é ainda mais alta: ministros como Alexandre de Moraes, relator do caso, não demonstram sinais de clemência, especialmente após violações reiteradas de medidas cautelares.
Essa dinâmica de "tudo ou nada" reflete a fragilidade do bolsonarismo pós-2022. O PL tenta se reposicionar, mas arrisca isolamento. Analistas políticos, ecoando Sakamoto, preveem que tentativas de redução de penas para golpistas podem boomerangar, fortalecendo narrativas de impunidade e minando a coesão da oposição. Em um Congresso fragmentado, onde o centrão dita o ritmo, projetos divisivos como esse demandam negociações árduas, e o timing atual – com o país ainda processando os traumas recentes – não favorece os bolsonaristas.

Conclusão: Lições para o Futuro Político Brasileiro
A análise de Leonardo Sakamoto ilustra as tensões inerentes ao polarizado tabuleiro político brasileiro. O PL, ao buscar anistiar Bolsonaro em meio ao escândalo da tornozeleira, revela não apenas lealdade partidária, mas também uma estratégia desesperada para resgatar relevância. Contudo, as resistências no Senado, STF e na opinião pública sugerem que essa cartada pode sair pela culatra, aprofundando divisões em vez de uni-las. Para o bolsonarismo, o caminho à frente exige moderação, pois a sociedade, ainda abalada pelos eventos de 2023, demanda accountability em vez de impunidade. Esse episódio serve como lembrete de que, na política, coincidências e impulsos podem custar caro, e o equilíbrio entre defesa e ataque definirá os rumos da oposição nos próximos anos.





