
Avanços Pontuais e Falta de Ambição no Encerramento da COP30, Segundo Especialistas
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém do Pará, encerrou-se com um misto de expectativas frustradas e r...
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém do Pará, encerrou-se com um misto de expectativas frustradas e reconhecimentos tímidos de progresso. Especialistas, ONGs e autoridades internacionais analisam os rascunhos finais como um passo adiante em alguns aspectos, mas longe de atender à urgência da crise climática global. O presidente da COP30 anunciou que o "mapa do caminho" para ações concretas ficou de fora do texto final, deixando lacunas críticas em temas como transição energética e financiamento para adaptação. Essa divisão de opiniões reflete não apenas os desafios diplomáticos, mas também a pressão de um planeta que já sente os efeitos irreversíveis do aquecimento global.

Avanços Reconhecidos nas Negociações
Apesar das críticas, há consenso entre analistas de que a COP30 trouxe avanços pontuais que mantêm o espírito do Acordo de Paris de 2015. Esses progressos incluem compromissos iniciais para monitorar emissões de gases de efeito estufa e parcerias bilaterais entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento. Por exemplo, países como Brasil e União Europeia destacaram avanços em relatórios de transparência, que facilitam a accountability global. No entanto, esses ganhos são vistos como insuficientes para reverter a trajetória atual de aquecimento, que já ultrapassa 1,1°C em relação aos níveis pré-industriais.
A meta de limitar o aquecimento a 1,5°C, estabelecida pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), é o norte dessas negociações. Ela visa evitar catástrofes como ondas de calor letais, elevação do nível do mar e perda de biodiversidade. Especialistas como os do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) notam que, embora haja menções a metas de redução de emissões até 2030, o texto final carece de mecanismos vinculantes para enforcement.
Críticas Centrais e Lacunas no Acordo
O pacote proposto na COP30 é criticado por não abordar com profundidade os pilares da transição climática. Carolina Pasquali, diretora executiva do Greenpeace Brasil, afirmou que o documento está "longe de ser uma resposta à altura da crise". Para a organização, falhas graves incluem:
- A ausência de reconhecimento explícito da crise climática como uma emergência global, o que enfraquece a urgência das ações.
- Falta de um mapa claro para a transição longe dos combustíveis fósseis, apesar de mais de 80 países terem defendido um roteiro para phasing out até 2050.
- Não apresentação de um plano concreto para zerar o desmatamento até 2030, apoiado por mais de 90 nações, especialmente vulneráveis como as da América Latina e África.
- Insuficiência no financiamento para adaptação, com promessas vagas de bilhões de dólares que não atendem à escala necessária para países em desenvolvimento.
Esses pontos dominaram os debates em Belém, onde delegações de nações insulares e indígenas pressionaram por maior ambição. A estatueta exposta durante a conferência, sem cunho religioso, simbolizou a diversidade cultural amazônica, mas não compensou as omissões políticas. Analistas do World Resources Institute (WRI) alertam que, sem esses elementos, o risco de ultrapassar 1,5°C aumenta, agravando desigualdades globais.

Implicações Globais e o Caminho Adiante
A COP30 reforça a direção do Acordo de Paris, mas falha em escalar as mudanças necessárias. Países ricos, responsáveis pela maior parte das emissões históricas, são cobrados por transferências financeiras mais robustas, estimadas em trilhões de dólares anuais para mitigação e adaptação. No Brasil, anfitrião do evento, o foco na Amazônia destacou a interseção entre clima e preservação cultural, mas ações concretas para combater o desmatamento ilegal permanecem pendentes.
Estudos do IPCC indicam que, sem ambição renovada, eventos extremos como as secas no Nordeste brasileiro e furacões no Caribe se intensificarão, afetando milhões. A conferência também abriu portas para diálogos culturais, integrando saberes indígenas nas discussões, o que enriquece o debate além da esfera técnica.

Em conclusão, a COP30 representa um capítulo de progresso modesto em meio a uma crise que exige transformação radical. Especialistas urgem que as lacunas sejam preenchidas nas próximas conferências, como a COP31, para honrar a meta de 1,5°C e proteger gerações futuras. O mundo observa, aguardando ações que transcendam palavras e alcancem impactos reais na preservação do planeta e de suas culturas.





