
Carla Jimenez: Nem Mesmo a Pena de 40 Anos para Feminicídio Faz Homens Misóginos Recuarem
As mulheres brasileiras enfrentam uma realidade alarmante de violência extrema, marcada por crimes que revelam as profundezas da misoginia enraizada n...
As mulheres brasileiras enfrentam uma realidade alarmante de violência extrema, marcada por crimes que revelam as profundezas da misoginia enraizada na sociedade. Nos últimos dias, o país tem sido abalado por casos brutais de feminicídio, perpetrados por ex-parceiros, ex-maridos ou até colegas de trabalho, todos unidos por um denominador comum: a crueldade motivada por sentimentos de contrariedade, ciúme ou rejeição. Esses episódios não são isolados, mas sintomas de uma cultura patriarcal que normaliza a agressão contra as mulheres. Ser mulher no Brasil, muitas vezes, significa navegar por um campo minado de riscos constantes, onde a independência é punida com violência impiedosa.
Esses crimes, amplamente divulgados na mídia, expõem a fragilidade das estruturas sociais e jurídicas para proteger as vítimas. De atropelamentos fatais a incêndios criminosos e assassinatos no ambiente de trabalho, a mensagem é clara: a vida de uma mulher pode ser destruída por um impulso machista. Como sociedade, não podemos mais ignorar que qualquer uma de nós poderia ser a próxima.
Casos Recentes que Chocam o Brasil
O Brasil tem sido palco de uma série de tragédias que ilustram a escalada da violência de gênero. Em São Paulo, na Marginal Tietê, Tainara Souza Santos, mãe de dois filhos, foi atropelada e arrastada por seu ex-namorado, Douglas Alves da Silva, resultando na amputação de suas pernas. O crime, motivado por ciúme, chocou a nação pela sua brutalidade gratuita em uma das cidades mais ricas do país.

Em Recife, um homem ateou fogo à casa de sua ex-companheira, matando-a e ferindo gravemente quatro filhos. Já no Rio de Janeiro, duas servidoras de uma escola técnica foram assassinadas por um ex-funcionário que não aceitava ser subordinado a mulheres. Esses incidentes, ocorridos em um curto intervalo de tempo, destacam padrões recorrentes: a recusa em aceitar o fim de relacionamentos ou a ascensão profissional feminina como gatilhos para a fúria destrutiva.
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registra cerca de 1.400 feminicídios por ano, com um aumento de 0,5% em 2023. Esses números subestimam a realidade, pois muitas agressões não são reportadas por medo ou falta de apoio.
A Limitação das Penas no Combate à Violência
Apesar da legislação avançada, como a Lei do Feminicídio de 2015, que prevê penas de até 40 anos de prisão, os crimes persistem. Carol Althaller, diretora executiva do Instituto Update, enfatiza que "aumentar penas não resolve o problema isoladamente. O feminicídio já tem a pena máxima elevada, mas a violência não diminui porque o cerne é cultural e estrutural, não apenas criminal."

Althaller aponta para a necessidade de educação e conscientização desde a infância. Programas como o "Maria da Penha vai à Escola" buscam desconstruir estereótipos machistas, mas faltam investimentos consistentes. Além disso, o sistema judiciário brasileiro enfrenta desafios como lentidão processual e impunidade em 30% dos casos de violência doméstica, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
- Medidas insuficientes: Penas longas não dissuadem agressores que agem por impulso emocional.
- Falta de prevenção: Ausência de políticas públicas amplas para tratar a misoginia como uma questão de saúde pública.
- Impacto familiar: Cada crime destrói não só a vítima, mas gera trauma intergeracional.
As Raízes Culturais da Misoginia Persistente
A misoginia no Brasil é alimentada por uma herança colonial e patriarcal que valoriza o controle masculino sobre as mulheres. Estudos da ONU Mulheres revelam que 58% das brasileiras sofreram algum tipo de violência ao longo da vida, com o assédio sendo uma forma "normalizada" de interação social. Movimentos como #EleNão e o feminismo interseccional ganham força, mas enfrentam resistência de setores conservadores.
Especialistas defendem uma abordagem multifacetada: educação sexual nas escolas, campanhas midiáticas e apoio psicológico para agressores em potencial. Sem atacar as raízes culturais, as leis permanecem como paliativos ineficazes.
Conclusão: Um Chamado por Mudança Urgente
Os crimes recentes servem como um alerta vermelho para o Brasil: a pena de 40 anos não basta para deter a misoginia quando ela é enraizada na cultura. Precisamos de uma revolução social que promova igualdade de gênero, com investimentos em prevenção, justiça ágil e educação transformadora. As mulheres merecem viver sem medo, e a sociedade como um todo deve se unir para desmantelar essa estrutura desigual. Só assim, transformaremos a dor silenciosa em ação coletiva por um futuro mais justo.





