
Como a Teoria das Cores Revela Temas Políticos em Pluribus, a Nova Série de Vince Gilligan
No universo das séries de ficção científica, Vince Gilligan, o gênio por trás de Breaking Bad e Better Call Saul, sempre soube usar elementos visuais...
No universo das séries de ficção científica, Vince Gilligan, o gênio por trás de Breaking Bad e Better Call Saul, sempre soube usar elementos visuais para aprofundar narrativas complexas. Sua mais recente criação, Pluribus, estrelada por Rhea Seehorn, não é exceção. Ambientada em um futuro distópico onde mensagens extraterrestres desafiam as estruturas sociais, a série explora temas políticos como poder, divisão e identidade coletiva. Um dos recursos mais marcantes é o emprego estratégico da teoria das cores, que não só enriquece a estética, mas também simboliza conflitos políticos sutis. Se você ainda não assistiu ao episódio piloto "We is Us", pare por aqui: spoilers à frente. Esta análise mergulha em como as cores verde e roxo tecem a trama, refletindo dinâmicas políticas contemporâneas.

O Verde: Símbolo de Ganância e Divisão Social
Na teoria das cores, o verde evoca múltiplas conotações, desde esperança e natureza até inveja e ambição material. Em Breaking Bad, Gilligan usou o verde para ilustrar a transformação de Walter White, de um professor modesto para um império criminoso impulsionado pela ganância. Em Pluribus, essa cor ganha camadas políticas, representando as fissuras sociais em uma sociedade à beira do colapso. No episódio inaugural, cientistas debatendo a mensagem estelar vestem verde, sinalizando não só expertise técnica, mas também interesses corporativos velados. Esses personagens, ligados a laboratórios farmacêuticos, incorporam a elite que monopoliza o conhecimento, ecoando debates reais sobre desigualdade e controle de recursos.
A cor permeia o cenário: das paredes dos labs aos detalhes sutis, como caixas de donuts que se revelam cruciais para a trama. A protagonista, Carol Sturka, uma escritora cética, aparece com uma blusa verde sob o sobretudo, sugerindo sua conexão relutante com o "mundo real" – o planeta Terra e suas lutas políticas. Esse verde terrenal contrasta com o cosmos, simbolizando como divisões humanas, como polarização política, impedem uma resposta unificada à crise. Gilligan, mestre em subtextos, usa essa paleta para criticar como ambições pessoais minam o bem comum, um tema recorrente em narrativas distópicas que espelham eleições e populismos atuais.
O Roxo: Mistério Cósmico e União Política Forçada
Enquanto o verde ancora Pluribus à humanidade falha, o roxo introduz o elemento alienígena, evocando mistério, realeza e transformação espiritual. Na psicologia das cores, o roxo é associado à imaginação e ao desconhecido, qualidades perfeitas para a mensagem das estrelas que abala o status quo político. No piloto, tons roxos surgem nas projeções holográficas e nas roupas de figuras de autoridade, como o presidente fictício que declara emergência nacional. Essa escolha visual sugere uma imposição de unidade – "We is Us" – que mascara divisões ideológicas profundas.
A evolução da cor ao longo do episódio reflete tensões políticas: inicialmente sutil, o roxo se intensifica em cenas de confronto, simbolizando a fusão forçada de identidades em nome da sobrevivência. Rhea Seehorn, como Carol, transita de tons neutros para toques roxos, ilustrando sua jornada de individualismo para engajamento coletivo. Gilligan, influenciado por estudos semióticos, emprega o roxo para questionar narrativas oficiais, reminiscentes de propaganda em regimes autoritários. Em um mundo pós-pandemia e com crescentes conflitos globais, essa simbologia convida o espectador a refletir sobre como líderes usam crises para consolidar poder.
A Interseção de Cores: Narrativa Política e Impacto Cultural
A interação entre verde e roxo em Pluribus cria uma dialética visual que impulsiona a trama política. Em sequências chave, como a revelação da mensagem, as cores se misturam, gerando um tom lamacento que representa corrupção e ambiguidade moral. Essa técnica, inspirada na teoria das cores de Goethe e aplicada ao audiovisual moderno, permite que Gilligan comente sobre hibridismo cultural em sociedades multiculturais. Políticamente, reflete coalizões instáveis, onde interesses verdes (econômicos) colidem com roxos (ideológicos), espelhando alianças frágeis em parlamentos reais.
- Verde dominante: Enfatiza realpolitik e interesses nacionais.
- Roxo emergente: Sugere ideais utópicos ou distópicos impostos de fora.
- Mistura: Ilustra o caos de transições políticas.
Essa abordagem não só enriquece a produção, mas também educa o público sobre semiótica, tornando Pluribus uma peça relevante para discussões políticas atuais.
Conclusão: Cores como Ferramenta de Crítica Social
Pluribus prova que Vince Gilligan continua inovando, usando a teoria das cores para tecer uma tapeçaria política densa e visualmente cativante. Verde e roxo não são meros adornos; são narradores silenciosos que expõem as fragilidades de sociedades divididas. Em um era de fake news e polarização, a série nos lembra o poder da arte em decifrar o complexo tecido político. Assista e interprete: as estrelas podem estar falando, mas são as cores que contam a verdadeira história.





