
Estrela polêmica: o negociador russo que rascunhou o plano de paz de Trump para a Ucrânia
Em um cenário geopolítico marcado por tensões entre Rússia, Ucrânia e Estados Unidos, surge uma figura improvável no centro das negociações: Kirill Dm...
Em um cenário geopolítico marcado por tensões entre Rússia, Ucrânia e Estados Unidos, surge uma figura improvável no centro das negociações: Kirill Dmitriev, um economista russo nascido em Kiev, fã declarado dos EUA e com formação em universidades americanas de prestígio. Aos 48 anos, Dmitriev não é um diplomata tradicional nem um agente de segurança, mas um negociador expansivo que ajudou a esboçar o plano de paz proposto por Donald Trump para encerrar a Guerra na Ucrânia. Seu perfil eclético — de promotor de vacinas contra a Covid-19 a usuário voraz de redes sociais — o torna uma "estrela polêmica" no Kremlin, gerando admiração e desconfiança em igual medida.

Trajetória improvável de um filho da Ucrânia soviética
Nascido em 1975 em Kiev, na então União Soviética, Kirill Alexandrovitch Dmitriev cresceu em uma família de cientistas, o que moldou sua inclinação para o mundo acadêmico e intelectual. Com passaporte russo, ele migrou para os Estados Unidos para estudar, formando-se em economia na Universidade de Stanford e na Harvard Business School. Essa experiência o transformou em um admirador da cultura e do sistema americano, contrastando com o perfil típico de burocratas russos.
Sua carreira começou no setor privado, onde trabalhou em bancos de investimento e fundos de venture capital. Em 2017, Dmitriev assumiu a liderança do Fundo Russo de Investimentos Diretos (RDIF), uma entidade estatal que atrai investimentos estrangeiros para a Rússia. Durante a pandemia de Covid-19, ele se destacou como promotor de vacinas russas, negociando parcerias internacionais e usando suas redes sociais para defender a ciência e a cooperação global. Essa visibilidade o aproximou do círculo de Vladimir Putin, mas também o isolou de rivais mais conservadores no governo.
O papel central no plano de paz de Trump
No final de outubro, Dmitriev se reuniu em Miami com Steve Witkoff, enviado de Donald Trump, para rascunhar um plano de paz que visa encerrar o conflito na Ucrânia. Revelado em 19 de junho, o documento — confirmado pela Casa Branca — propõe concessões territoriais e neutralidade ucraniana, favorecendo amplamente os interesses de Putin. Dmitriev, com seu conhecimento profundo dos EUA e da Ucrânia, foi peça-chave nessa elaboração, atuando como ponte entre Moscou e Washington.
Seu estilo expansivo e falastrão, como o descrevem rivais, contrasta com a discrição usual no Kremlin. Economista e não um siloviki (membro do aparato de segurança), ele é visto como um "corpo estranho" por muitos. No entanto, sua obstinação e expertise em negociações internacionais o tornam indispensável. Críticos o acusam de ser um "vendedor sem substância", mas admitem que poucos no governo russo entendem tão bem o Ocidente.

Controvérsias e intrigas no Kremlin
Dmitriev não é imune a polêmicas. Ele é odiado na chancelaria de Sergei Lavrov, o ministro das Relações Exteriores de 75 anos, que prefere uma abordagem mais ortodoxa. Rumores recentes, circulando desde 22 de junho, sugerem que o plano de paz pode não ter consenso total em Moscou. O breve desaparecimento público de Lavrov nas últimas semanas alimentou especulações sobre uma possível sucessão, com Dmitriev como nome cotado — embora improvável, dada sua falta de experiência em diplomacia tradicional.
Seus detratores o pintam como ambicioso demais, mas aliados destacam sua capacidade de navegar em águas turbulentas. Como usuário pesado de redes sociais, Dmitriev frequentemente compartilha visões pró-Ocidente, o que o torna vulnerável a acusações de deslealdade em um ambiente paranoico como o russo.

Um futuro incerto para o negociador estrela
Kirill Dmitriev representa uma nova geração de líderes russos: cosmopolitas, conectados globalmente e dispostos a desafiar normas. Seu envolvimento no plano de Trump pode acelerar a paz na Ucrânia ou aprofundar divisões internas no Kremlin. Enquanto o mundo observa, sua ascensão destaca as contradições da elite putinista: um homem nascido em Kiev, educado nos EUA, negociando o destino de sua terra natal. Se o plano avançar, Dmitriev pode se consolidar como uma força transformadora; caso contrário, arrisca cair em desgraça. Em tempos de guerra, figuras como ele lembram que a diplomacia muitas vezes surge dos lugares mais inesperados.





