
Josias de Souza: A Valentia Efêmera de Alcolumbre no Caso da Indicação de Messias ao STF
Na arena política brasileira, onde alianças se formam e desfazem com a rapidez de uma tempestade tropical, a linha entre coragem e imprudência é tênue...
Na arena política brasileira, onde alianças se formam e desfazem com a rapidez de uma tempestade tropical, a linha entre coragem e imprudência é tênue como um fio de navalha. Recentemente, essa dinâmica veio à tona na controvérsia envolvendo a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Lula. O que começou como um embate de vontades entre o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o Palácio do Planalto, terminou revelando a fragilidade de posturas ousadas em meio a negociações veladas. Alcolumbre, inicialmente visto como um defensor ferrenho da autonomia legislativa, acabou recuando, expondo como interesses pessoais e pressões institucionais podem eclipsar gestos de bravura.

A Crise Inicial e a Postura de Alcolumbre
A polêmica eclodiu logo após a indicação de Jorge Messias ao STF, em novembro de 2023, para substituir o ministro Ricardo Lewandowski. Messias, um jurista respeitado e ex-advogado-geral com histórico de defesas sólidas do governo federal, representava uma escolha estratégica de Lula para reforçar a composição progressista da Corte. No entanto, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), reagiu com uma ousadia que surpreendeu analistas. Ele impôs um rito acelerado para a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e votação em plenário, marcada para 10 de dezembro de 2023 – um prazo apertado que contrariava o desejo do governo de um processo mais dilatado.
Alcolumbre, conhecido por sua habilidade em negociações nos bastidores, justificou a medida como uma defesa da eficiência legislativa. Mas fontes próximas revelam motivações mais pessoais: o senador amapaense havia apoiado Rodrigo Pacheco, atual presidente da Câmara, como possível indicado, e via a escolha de Messias como um desfecho que o marginalizava. Essa "valentia" inicial foi aplaudida por opositores do governo, que viam nela uma rara afirmação de independência do Legislativo frente ao Executivo. No entanto, como em muitos capítulos da política nacional, o que parecia uma vitória simbólica logo se transformaria em um revés.
A Pressão do Planalto e as Manobras nos Bastidores
O Palácio do Planalto não demorou a contra-atacar. Lula, ciente do peso de Alcolumbre no Senado – onde o parlamentar controla comissões chave e influencia nomeações –, optou por uma estratégia de retaliação sutil. Nos corredores do poder, o presidente sinalizou que não toleraria interferências em suas indicações ministeriais, especialmente quando elas envolviam aliados fiéis como Messias, que já havia se destacado em ações judiciais contra o bolsonarismo durante a pandemia de Covid-19.
Uma das táticas mais eficazes foi o atraso intencional no envio da mensagem presidencial formalizando a indicação. Essa "omissão", como a descreveu Alcolumbre em nota oficial, paralisou o processo, adiando indefinidamente a sabatina. Lula, por sua vez, mobilizou sua base aliada no Senado, incluindo senadores do PT e de partidos do centrão, para pressionar o presidente da Casa. Relatos de reuniões discretas indicam que o Planalto prometeu contrapartidas, como mais espaço para indicações em ministérios e agilidade em pautas de interesse regional, como infraestrutura no Norte do país. Alcolumbre, que já enfrenta investigações da Polícia Federal em inquéritos relacionados a emendas parlamentares, percebeu os riscos de um confronto aberto. Com apadrinhados em cargos estratégicos e dependência de recursos federais para seu estado, o senador optou pela cautela.

O Recuo Estratégico e Suas Consequências
Em uma reviravolta anunciada na terça-feira, 12 de dezembro de 2023, Alcolumbre formalizou o adiamento da sabatina para 2026, alinhando-se ao calendário desejado pelo governo. Na nota divulgada, o senador manteve um tom combativo, criticando a "interferência grave e sem precedentes" do Executivo na agenda legislativa. No entanto, analistas veem nisso não uma rendição incondicional, mas o prelúdio de negociações. Espera-se que Lula se reúna pessoalmente com Alcolumbre nos próximos dias para entregar a documentação de Messias, selando uma trégua.
Esse episódio ilustra as dinâmicas de poder no Congresso Nacional. Alcolumbre, apesar de seu recuo, preserva sua influência ao evitar um embate que poderia custar caro. Para Messias, o adiamento significa um limbo prolongado, mas também tempo para consolidar apoios. Já para Lula, reforça a narrativa de um governo que não cede em nomeações cruciais para o equilíbrio de forças no Judiciário.
- Impactos no STF: A vaga permanece aberta, afetando decisões pendentes em temas como aborto e direitos indígenas.
- Relações Inter-poderes: O caso expõe tensões crescentes entre Executivo e Legislativo, reminiscentes de crises passadas como o impeachment de Dilma Rousseff.
- Perspectivas Futuras: Com eleições municipais em 2024, Alcolumbre pode usar essa mediação para fortalecer sua base no Amapá.

Conclusão: Lições de uma Valentia Passageira
O caso Messias serve como um lembrete de que, na política brasileira, a valentia isolada raramente prevalece sem alianças sólidas. Alcolumbre dobrou o joelho não por fraqueza, mas por cálculo estratégico, preservando seu capital político em um cenário de instabilidades econômicas e judiciais. Para o país, o episódio reforça a necessidade de rituais transparentes na escolha de ministros do STF, garantindo que indicações reflitam mérito e não apenas lealdades partidárias. Enquanto isso, Lula avança em sua agenda de reformas, mas com o alerta de que o Congresso permanece um terreno minado. Em última análise, essa "qualidade fugaz" de Alcolumbre ecoa uma verdade eterna: na política, sobreviver é a maior forma de vitória.
Este artigo é uma análise baseada em fatos públicos e opiniões do colunista Josias de Souza. Palavras aproximadas: 520.





