
Leonardo Sakamoto: Com Jair preso, Michelle escancara crise na direita e no clã Bolsonaro
A prisão de Jair Bolsonaro pela Polícia Federal tem exposto fissuras profundas no clã familiar e no movimento político que o orbitava. Mal o ex-presid...
A prisão de Jair Bolsonaro pela Polícia Federal tem exposto fissuras profundas no clã familiar e no movimento político que o orbitava. Mal o ex-presidente se acostumou à carceragem, e já eclodiu uma crise sucessória que revela as tensões internas entre seus filhos e a esposa, Michelle Bolsonaro. Essa disputa não é apenas familiar; ela reflete a instabilidade na direita brasileira, especialmente no Partido Liberal (PL), e pode redefinir o futuro do bolsonarismo em um cenário sem seu líder carismático à frente.

A Crise no Ceará e a Disputa pela Liderança
O estopim da crise veio de uma articulação política no Ceará. Michelle Bolsonaro, como diretora do PL Mulher, criticou publicamente a aliança do PL local com Ciro Gomes, do PSDB, que planeja concorrer ao governo do estado com apoio da direita. O objetivo era barrar a reeleição do petista Elmano de Freitas e enfraquecer os votos para Lula nas eleições futuras. No entanto, essa posição de Michelle foi vista como um desvio da linha oficial do partido.
Os filhos de Bolsonaro – Flávio, Eduardo e Carlos – não pouparam críticas à madrasta. Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro, acusou Michelle de "atropelar" o próprio Jair, que teria autorizado o deputado André Fernandes a avançar nessa aliança. Em entrevista ao portal Metrópoles, Flávio descreveu a atitude de Michelle como "autoritária e constrangedora". Eduardo e Carlos endossaram o irmão nas redes sociais, reforçando que a decisão havia sido aprovada pelo pai e que sua liderança deve ser respeitada, mesmo preso.
Ciro Gomes, por sua vez, não ficou calado. O ex-governador cearense já havia criticado Bolsonaro diversas vezes, inclusive chamando-o de "ladrão de galinha" em tom irônico. Essa aliança, agora questionada, destaca as contradições na direita: unir forças contra a esquerda, mas sem um comando unificado.
As Ambições Políticas e o Papel de Michelle
Com Jair indisponível, especula-se sobre o futuro político da família. Flávio e Michelle são cotados para disputar a Presidência em 2026 ou, mais realisticamente, a vice-presidência em alguma chapa. Flávio, em conversa com o jornalista João Paulo Biage, do jornal O Povo, enfatizou que Michelle "não é política" e precisa aprender que o processo decisório é coletivo. "A forma de tomar uma decisão às vezes é mais importante do que a própria decisão", disse ele, alertando que candidaturas majoritárias nos estados não cabem a decisões pessoais de Michelle, nem dele, nem de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL.
Flávio prometeu discussões internas no partido, mas deixou claro que a palavra final sempre será de Jair Bolsonaro. Essa declaração revela uma tentativa de manter a hierarquia familiar, mas também expõe a fragilidade: sem o patriarca, as lealdades se dividem. Michelle, promovida a protagonista pelas circunstâncias, busca centralizar o poder em um movimento que sempre girou em torno do ex-presidente, visto como o "macho-alfa" do bolsonarismo.

Implicações para o Bolsonarismo e a Direita Brasileira
A dinâmica atual lembra uma "franquia sem franqueador": cada bolsonarista abre sua própria loja, cola o adesivo na porta e finge seguir o manual original. Os filhos, criados à sombra da autoridade paterna, moveram-se rapidamente para evitar que Michelle monopolize o espaço. Entre "tapas, beijos e facas no escuro", como descreve o jornalista Leonardo Sakamoto, eles preservam a liturgia da obediência, mas as rachaduras são evidentes.
- Desafios no PL: O partido precisa de unidade para as eleições de 2026, mas disputas internas podem fragmentá-lo.
- Impacto na direita: Alianças regionais, como no Ceará, são cruciais para conter o PT, mas sem coordenação, o risco de isolamento aumenta.
- Futuro do clã: A prisão de Jair força uma redefinição de papéis, com Michelle emergindo como figura central, mas contestada.

Em conclusão, a prisão de Jair Bolsonaro não apenas o remove do tabuleiro político imediato, mas acelera a desintegração de seu império familiar. Michelle representa uma nova era, mas os filhos resistem, temendo perder influência. Para o bolsonarismo, essa crise é um teste de resiliência: sem o líder carismático, o movimento pode se diluir em facções rivais, enfraquecendo a direita como um todo. O futuro dependerá de como o PL e o clã navegarem essas águas turbulentas, em um Brasil polarizado onde cada erro pode custar caro.



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