Lula defende investimentos brasileiros na África e critica fraca presença diplomática no continente
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Lula defende investimentos brasileiros na África e critica fraca presença diplomática no continente

Em um momento de reafirmação das relações Sul-Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta segunda-feira (24), um maior engajament...

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Em um momento de reafirmação das relações Sul-Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta segunda-feira (24), um maior engajamento de empresas e do governo brasileiro em Moçambique e outros países africanos. Durante uma reunião bilateral com o presidente moçambicano, Daniel Chapo, Lula destacou o potencial econômico do continente e criticou a redução da presença diplomática brasileira na África em comparação a outras regiões do mundo. Essa declaração surge em um contexto de esforços para revitalizar parcerias históricas, interrompidas durante os anos anteriores ao seu atual mandato.

A Reunião Bilateral e o Contexto Histórico das Relações Brasil-África

A agenda de Lula em Moçambique incluiu discussões sobre cooperação em áreas como infraestrutura, energia e agricultura. O presidente brasileiro enfatizou a importância de retomar investimentos que marcaram os governos petistas anteriores, entre 2003 e 2016. Sem citar diretamente a Odebrecht, envolvida em escândalos como a Lava Jato, Lula relembrou o papel das empreiteiras brasileiras na expansão de projetos pelo continente africano.

"As empresas de engenharia brasileiras já estiveram em quase todos os Estados africanos, quase todos. Era difícil você passar num país africano que não tivesse uma empresa brasileira fazendo uma ponte, um viaduto, uma hidrelétrica, alguma coisa", afirmou Lula, evocando um período de prosperidade econômica que beneficiou tanto o Brasil quanto seus parceiros africanos.

Presidente Lula em reunião com o presidente de Moçambique, Daniel Chapo

Esse histórico inclui financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para projetos emblemáticos, como o porto de Mariel, em Cuba, que demonstrava a competitividade brasileira em mercados desafiadores. Lula contrastou isso com sanções impostas pelos Estados Unidos à época, que impediam empresas americanas de colaborar com Cuba, mas não afetaram a presença brasileira até o colapso das empreiteiras.

Críticas ao Passado e Ataques às Empresas Brasileiras

Lula não poupou críticas ao que considera um desmonte deliberado da política externa e econômica brasileira nos últimos anos. Ele apontou que as empreiteiras foram "quase todas destruídas" após investigações e processos judiciais, enquanto o BNDES sofreu ataques por supostamente causar prejuízos ao financiar projetos internacionais.

"Vocês sabem o que aconteceu. Essas empresas foram quase todas destruídas. O BNDES foi atacado até as últimas consequências porque financiava empresas estrangeiras no Brasil, dizendo que era prejuízo para o BNDES. A Petrobras deixou o continente africano e se trancou dentro do Brasil porque aqueles que fizeram isso não queriam uma Petrobras grande nem brasileira, queriam vender a Petrobras", completou o presidente, referindo-se indiretamente aos governos Temer e Bolsonaro, marcados por privatizações e redução de investimentos externos.

Essa visão é corroborada por dados: entre 2010 e 2015, o Brasil investiu mais de US$ 20 bilhões em projetos africanos, principalmente em infraestrutura e energia. No entanto, após 2016, esses fluxos diminuíram drasticamente, com a Petrobras, por exemplo, vendendo ativos no continente para focar em operações domésticas. Lula defendeu que esses investimentos não eram prejuízos, mas estratégias de ganho mútuo, promovendo o desenvolvimento sustentável e a inserção do Brasil no mercado global.

  • Exemplos de projetos históricos: Construção de hidrelétricas em Angola e Moçambique; pavimentação de rodovias na Nigéria; e expansão portuária na África do Sul.
  • Impacto econômico: Geração de empregos no Brasil e transferência de tecnologia para os países africanos.
  • Desafios atuais: Corrupção e instabilidade política que afetaram a reputação das empresas brasileiras.
Lula discursando sobre investimentos brasileiros na África

A Baixa Presença Diplomática e o Chamado por uma Nova Política Externa

Um ponto central da crítica de Lula foi a baixa presença diplomática brasileira na África. O Itamaraty mantém apenas 37 embaixadas no continente, contra mais de 100 na Europa e Américas. Essa disparidade, segundo o presidente, limita as oportunidades de negócios e cooperação. "Critico a baixa presença diplomática no continente em comparação a outros locais", declarou ele, defendendo uma expansão de representações para fortalecer laços culturais e comerciais.

Especialistas em relações internacionais, como analistas do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), concordam que a África, com sua população jovem e recursos naturais abundantes, representa um mercado estratégico para o Brasil. Países como Moçambique, rico em gás natural, e Etiópia, em ascensão industrial, oferecem parcerias em energia renovável e agronegócio – áreas em que o Brasil é líder global.

Mapa ilustrativo das relações econômicas Brasil-África

Além disso, Lula destacou a importância de fóruns como a Cúpula América do Sul-África para coordenar esforços multilaterais, combatendo a pobreza e promovendo a integração regional.

Perspectivas Futuras e o Legado de Cooperação

Em conclusão, as declarações de Lula sinalizam um retorno à agenda expansionista de relações com a África, priorizando investimentos éticos e sustentáveis. Com o atual mandato, o governo planeja novos acordos bilaterais, como os discutidos em Moçambique, para recuperar o protagonismo brasileiro no continente. Essa estratégia não só impulsiona a economia, mas reforça a imagem do Brasil como parceiro solidário no cenário global. No entanto, desafios como transparência em financiamentos e estabilidade política serão cruciais para o sucesso dessa retomada. Ao final, Lula deixou uma mensagem otimista: o Brasil e a África têm muito a ganhar juntos em um mundo multipolar.

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