Mariana Barbosa: Banco Central autorizou esvaziamento do Banco Master três meses antes da liquidação
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Mariana Barbosa: Banco Central autorizou esvaziamento do Banco Master três meses antes da liquidação

Em um episódio que expõe fragilidades no sistema financeiro brasileiro, o Banco Central (BC) aprovou uma reestruturação societária no Banco Master que...

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Em um episódio que expõe fragilidades no sistema financeiro brasileiro, o Banco Central (BC) aprovou uma reestruturação societária no Banco Master que, na prática, facilitou o esvaziamento de ativos do conglomerado três meses antes de sua liquidação extrajudicial. Anunciada na semana passada, a falência do banco de Daniel Vorcaro, revelada pela procuradora-geral da República, Mariana Barbosa, levanta questionamentos sobre a supervisão regulatória e possíveis conluios políticos. Essa operação não só permitiu a saída de um sócio chave, mas também a transferência de ativos valiosos, enquanto o banco mergulhava em uma crise bilionária envolvendo fraudes em carteiras de consignado.

Imagem ilustrativa da reestruturação societária do Banco Master

A Aprovação da Reestruturação pelo Banco Central

A reestruturação societária foi autorizada pelo Banco Central em 11 de agosto, um período crítico em que o Banco de Brasília (BRB) ainda negociava com o regulador uma operação de socorro ao Master. Essa aprovação coincidiu com esforços para envolver figuras políticas influentes, como os presidentes do União Brasil, Antonio Rueda, e do PP, Ciro Nogueira, que supostamente apoiavam a iniciativa de resgate. Internamente, o Master havia aprovado a mudança em junho, visando a saída de Augusto Lima, banqueiro com laços ao PT da Bahia e detentor de 30% das ações do banco.

Com essa manobra, Lima transferiu para si o controle do Banco Voiter (anteriormente conhecido como Indusval) e da Intercap Distribuidora de Títulos e Valores Imobiliários. Em julho, o Voiter alterou seu nome para Pleno, consolidando a separação de ativos. Essa decisão estratégica permitiu que o Voiter escapasse da intervenção subsequente, evitando a liquidação que atingiu o Master. A timing da aprovação levanta suspeitas: enquanto o BC avalizava o esvaziamento, o banco principal acumulava dívidas e irregularidades que culminariam em sua derrocada.

A Transferência de Ativos e o Papel dos Sócios

Augusto Lima não saiu de mãos vazias. Ele levou consigo um dos ativos mais lucrativos do grupo: o contrato de exclusividade sobre 30% da margem consignável dos servidores públicos da Bahia, válido até 2033. Esse acordo representava uma fonte estável de receita na carteira de consignados, que foi o epicentro das fraudes investigadas. A Operação Compliance Zero, deflagrada pela Polícia Federal, prendeu Lima, Vorcaro e outros executivos por um esquema estimado em R$ 12 bilhões, envolvendo a venda irregular de carteiras de consignado para o BRB.

O outro sócio, Maurício Quadrado, também com 30% das participações, tentou uma saída similar. Os acionistas aprovaram uma operação em que ele ficaria com o Letsbank, além das gestoras MAM e Macam. No entanto, o Banco Central vetou essa transação, resultando na inclusão desses ativos na liquidação extrajudicial do Master. Essa discrepância no tratamento dos sócios sugere possíveis falhas na governança regulatória, onde aprovações seletivas beneficiaram uns em detrimento de outros.

Representação da Operação Compliance Zero e prisões no caso Banco Master

Consequências para o Conglomerado e o Sistema Financeiro

O impacto da liquidação se estendeu a outros braços do grupo. O Will Bank, que o Master tentava vender, foi colocado em regime de administração temporária especial pelo BC. Com quase R$ 10 bilhões em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) emitidos, o banco ainda pode ser alienado, mas seus ativos serão direcionados prioritariamente aos credores. Os administradores tiveram seus bens bloqueados, intensificando as investigações sobre má gestão e fraudes.

A Operação Compliance Zero não só desmantelou o esquema fraudulento, mas também expôs vulnerabilidades no setor de consignados, que movimenta bilhões anualmente no Brasil. Autoridades apontam para conivências políticas e falhas de supervisão, com o BRB como peça central na aquisição de carteiras tóxicas. A liquidação do Master afeta milhares de investidores e servidores, destacando a necessidade de reformas no arcabouço regulatório para prevenir abusos semelhantes.

Ilustração das implicações financeiras da liquidação do Banco Master

Em conclusão, a autorização do Banco Central para a reestruturação do Master revela um capítulo preocupante na história do sistema financeiro brasileiro. Enquanto alguns sócios escaparam com ativos intactos, o colapso do banco principal deixa um rastro de prejuízos e desconfiança. Casos como esse reforçam a urgência de maior transparência e rigor na supervisão bancária, garantindo que o interesse público prevaleça sobre manobras societárias questionáveis. A investigação em curso promete esclarecer responsabilidades, mas o episódio já marca um alerta para o futuro do setor.

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