
Mensagens de Edcley Revelam Acesso Prévio a Duas Questões do Enem Não Anuladas pelo Inep
Em um escândalo que abala a credibilidade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), novas evidências apontam para um esquema de vazamento de questões...
Em um escândalo que abala a credibilidade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), novas evidências apontam para um esquema de vazamento de questões muito mais amplo do que inicialmente revelado. Edcley Teixeira, estudante de medicina flagrado divulgando conteúdos semelhantes às provas oficiais em uma live no YouTube, compartilhou respostas corretas de pelo menos duas questões de matemática em um grupo de WhatsApp com meses de antecedência. Apesar disso, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) manteve essas perguntas válidas no gabarito oficial, anulando apenas três itens expostos publicamente. Essa revelação exclusiva levanta sérias dúvidas sobre a integridade do processo seletivo mais importante do país.
As Questões Não Anuladas e Suas Implicações
As mensagens de Edcley, enviadas em 17 de março de 2025 a um grupo com centenas de alunos, indicam acesso prévio a questões específicas de matemática. A primeira trata de probabilidade envolvendo lançamento de dados, correspondendo aos itens 178 da prova azul, 176 da cinza, 169 da amarela e 172 da verde. A segunda aborda solução com concentração de 99,90%, presente nos itens 140 da azul, 144 da cinza, 137 da amarela e 148 da verde. Ambas foram divulgadas com oito meses de antecedência em relação à prova oficial do Enem 2025, realizada em novembro.
Essas questões permanecem ativas no gabarito divulgado pelo Inep, o que significa que milhares de estudantes foram avaliados com base em conteúdos potencialmente comprometidos. O g1 teve acesso exclusivo às capturas de tela das mensagens, que incluem não só as respostas corretas, mas também explicações detalhadas, sugerindo um vazamento sistemático. Especialistas em educação alertam que isso pode invalidar resultados e gerar ações judiciais, afetando o acesso ao ensino superior para uma geração inteira.

O Esquema de Edcley: Como as Questões Foram Obtidas
Edcley Teixeira, aluno de medicina, montou uma rede sofisticada para antecipar conteúdos do Enem. Ele descobriu que o Prêmio Capes de Talento Universitário, direcionado a calouros do ensino superior, utilizava questões como "pré-teste" para o exame nacional. Identificando padrões de reutilização, Edcley incentivou universitários a participarem do concurso e memorizarem os itens.
- Identificação do padrão: Questões do prêmio apareciam em edições futuras do Enem com poucas alterações.
- Recrutamento e pagamento: Oferecia pelo menos R$ 10 por questão memorizada, criando um "banco de itens" para suas aulas particulares.
- Monetização: Vendia mentorias personalizadas com base nesse acervo, beneficiando-se financeiramente do esquema.
A live no YouTube, realizada cinco dias antes do Enem, expôs três questões quase idênticas às oficiais, o que levou à anulação imediata pelo Inep. No entanto, as mensagens de março revelam um acesso ainda mais precoce, sugerindo que o vazamento pode envolver falhas na elaboração das provas da Capes e do Inep. A Polícia Federal (PF) investiga o caso, com Edcley como alvo principal, e o g1 apurou que ele pode ter colaborado com outros mentores educacionais.

Resposta do Inep e o Impacto na Educação Brasileira
Em nota enviada ao g1 nesta terça-feira (25), o Inep afirmou que "nenhuma outra questão será anulada", baseando-se em análises técnicas que não detectaram irregularidades adicionais. O órgão cancelou apenas as três perguntas da live, argumentando que as demais não foram publicamente expostas. Críticos, incluindo entidades estudantis, questionam a rigidez do processo e demandam uma auditoria independente.
A investigação da PF ganhou destaque em entrevista exclusiva de Renata Ceribelli com Edcley, transmitida em rede nacional, onde ele negou intenções criminosas, alegando "estudo antecipado". No entanto, provas indicam um esquema organizado, com pagamentos documentados e grupos de disseminação. O caso expõe vulnerabilidades no sistema educacional, onde concursos paralelos podem comprometer a neutralidade do Enem.

Conclusão: Lições para o Futuro do Enem
O escândalo envolvendo Edcley Teixeira reforça a necessidade de reformas urgentes na elaboração e segurança das provas do Enem. Com milhões de jovens dependendo do exame para o futuro acadêmico, a transparência e a integridade são inegociáveis. Enquanto a PF avança na apuração, o Inep deve rever parcerias com instituições como a Capes para evitar vazamentos. Esse episódio não só questiona resultados de 2025, mas também inspira uma reflexão coletiva sobre equidade na educação brasileira, garantindo que o mérito prevaleça sobre manipulações.



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