
O climão provocado pelo vice do PT em seminário sobre segurança pública no Rio
Em um seminário promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio de Janeiro, focado em segurança pública, o vice-presidente nacional da sigla e pr...
Em um seminário promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio de Janeiro, focado em segurança pública, o vice-presidente nacional da sigla e prefeito de Maricá, Washington Quaquá, gerou polêmica ao comentar a recente megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, que resultou em 122 mortes. Suas declarações, vistas como insensíveis por alguns participantes, reacenderam debates sobre o papel da polícia, as raízes da violência e as estratégias de enfrentamento ao crime nas favelas. O evento, que buscava discutir alternativas progressistas para a segurança, acabou marcado por interrupções e discussões acaloradas, destacando as tensões internas e externas ao partido.

O incidente durante o seminário
Durante o evento, organizado pela ala carioca do PT, Quaquá assumiu o microfone para criticar a abordagem repressiva adotada pela polícia fluminense. Ele afirmou que, na operação em questão, "a polícia do Rio, o BOPE, só matou ali otários, vagabundos, bandidos". A declaração provocou reações imediatas entre os presentes. Um vídeo que circula nas redes sociais captura o momento: uma mulher grita "Mentira sua!", interrompendo o prefeito, que a repreende perguntando: "Você vai ouvir eu falar ou vai ficar berrando enquanto eu falo?"
Quaquá prosseguiu defendendo o diálogo democrático, ironizando: "Eu ouço bobagens à vontade. Espero que na democracia se ouça também as bobagens dos outros. Eu ouço as de vocês. E depois querem dizer que são de esquerda e democráticos, mas só ouvem a própria opinião". Essa troca de farpas ilustra as divisões no debate sobre segurança pública, especialmente em contextos onde a letalidade policial é alta. No Rio, operações como essa, conduzidas pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), frequentemente geram controvérsias, com organizações de direitos humanos apontando excessos e violações.
A contextualização e defesa de Quaquá
Em contato com a VEJA, o prefeito de Maricá esclareceu suas palavras, argumentando que o termo "otários" se referia às condições socioeconômicas que levam jovens periféricos a se envolverem com o crime organizado. "Quando falei em otário, estava me referindo a bandidos que, por R$ 300 por semana, perderam a vida no confronto com a polícia. Mas, por outro lado, não tiveram outra oportunidade. É isso que precisamos mudar", explicou.
Ele enfatizou a necessidade de políticas sociais robustas para romper o ciclo de violência nas favelas. "Temos que entrar na favela e livrar o pobre do domínio da bandidagem, sim. Mas depois temos que vir com política social na veia, oferecendo oportunidade, arte, cultura e cidadania. Como dizem meus amigos da CUFA, a favela é potência. Temos que libertá-la dos criminosos. E só a esquerda pode fazer isso", completou Quaquá. Essa visão alinha-se com propostas petistas históricas, que defendem investimentos em educação e inclusão social como antídoto à criminalidade, em oposição a modelos puramente punitivos.
Divergências internas no PT e o caminho para a unidade
Questionado sobre as críticas dentro do próprio PT à megaoperação – que dividiu opiniões entre quem a vê como necessária contra o tráfico e quem a condena como genocídio –, Quaquá reforçou a tradição pluralista da legenda. "Se no PT não houver divergência é outro partido. Nós assumimos nossas polêmicas, depois resolvemos no voto e aí partimos para uma ação unificada. Nós não somos um partido stalinista, em que uma direção manda e todo mundo obedece. Nós somos um partido rebelde, que tem no debate a sua essência e método", declarou.
Essa postura reflete o histórico do PT, fundado em 1980 como um espaço de contestação e diversidade ideológica. No contexto atual, com eleições municipais se aproximando, incidentes como esse podem influenciar o posicionamento da sigla em temas sensíveis como segurança. Especialistas em ciências políticas apontam que o debate interno fortalece a democracia partidária, mas exige moderação para evitar desgastes públicos.
Conclusão: Rumo a uma segurança mais humana
O episódio no seminário do PT no Rio destaca as complexidades do debate sobre violência urbana no Brasil. As palavras de Washington Quaquá, embora polêmicas, convidam a uma reflexão profunda sobre as causas estruturais do crime e a urgência de políticas inclusivas. Em um país marcado por desigualdades abissais, transformar favelas em potências de cidadania exige não só repressão, mas investimento social contínuo. O PT, com sua ênfase no diálogo, pode liderar essa agenda, desde que supere as tensões internas para apresentar propostas unificadas. No final, a verdadeira "operação" necessária é a de resgate da esperança nas periferias, garantindo que ninguém seja "otário" do sistema.





